Crianças migrantes afetadas pela separação dos pais

"Muitas crianças não entendiam por que estavam separadas de seus pais e "sofreram altos níveis de angústia mental", diz o Departamento de Saúde.

Por POR Arlaine Castro

Arlaine

Não é frescura quando uma criança é obrigada a ficar longe dos pais e passa a ter problemas de saúde como insônia, falta de apetite ou medo excessivo. Nesse caso, não estamos falando sobre uma viagem dos pais a trabalho ou algo do tipo, mas da separação repentina na fronteira após longa jornada (que também já causa vários traumas pela violência à qual muitas crianças são expostas) daqueles que as protegem e dos dias angustiantes até tornar a vê-los de novo.

Pelo menos é o que trata um relatório oficial do Departamento de Saúde publicado na quarta-feira, 4, sobre os menores separados na fronteira entre Estados Unidos e México em 2018.

"Alguns expressavam uma dor aguda que os fazia chorar sem parar", outros "se negavam a comer, ou a participar das atividades", e os que não entendiam por que estavam separados de seus pais "sofreram altos níveis de angústia mental", acrescenta o escritório do inspetor-geral, um órgão que supervisiona de maneira independente as estruturas subordinadas ao Departamento.

Em 2018, Donald Trump declarou uma política de "tolerância zero" na fronteira com o México, o que levou à separação de milhares de famílias. Na época, as autoridades identificaram mais de 2.700 crianças que deveriam ser reunidas com seus pais.

Famílias essas formada em sua maior parte por centro-americanos de Honduras, Nicarágua e El Salvador que buscam nos EUA o fim de uma vida de pobreza e da violência em seus países. Logo depois, o presidente pôs fim à medida, enquanto um juiz ordenava a reunificação das famílias divididas

Como parte da população migrante que tenta entrar ilegalmente nos EUA, houve casos de brasileiros que também passaram pela situação, é claro. Em agosto de 2018, o Itamaraty chegou a levantar um total de 57 menores brasileiros em abrigos espalhados pelo país. Eles foram posteriormente reunidos com sua família, segundo o órgão brasileiro. Mas, como vivem agora? É o que questiona o relatório.

"As crianças separadas mostraram mais medo, sentimentos de abandono e de estresse pós-traumático do que as crianças que não haviam sido separadas", escreve o inspetor-geral do Departamento de Saúde no relatório sobre as visitas realizadas em meados de 2018 por suas equipes a 45 centros de acolhida para menores migrantes.

A política de separação de famílias migrantes piorou "o sofrimento psicológico" de muitas crianças já marcadas por experiências traumáticas - conforme revelou o relatório oficial.

Segundo o relatório, "a separação de famílias e um processo de reunificação desordenada se somou ao trauma" dos menores que já enfrentavam abusos, ou violência, em seus países de origem, ou na rota migratória.

Junto com a política de "tolerância zero", as normas para a entrega dos menores a "patrocinadores" em todo país também ficaram mais rigorosas e prolongou ainda mais a estadia destas crianças e adolescentes nos centros de acolhida do Departamento da Saúde. Essa demora gerou "um maior nível de desconfiança, desesperança e frustração entre as crianças, com mais casos de mutilação, ou ideias suicidas", acrescentou o inspetor-geral.

Em novembro de 2018, registrou-se um pico de 93 dias em média.

O relatório foi baseado em entrevistas com cerca de 100 médicos de saúde mental que mantinham interações regulares com crianças, mas não abordavam diretamente a qualidade dos cuidados que as crianças recebiam.

Sem muito o que fazer, o relatório finaliza propondo o reforço no treinamento do pessoal e o acesso a psiquiatras externos, assim como de transferência dos casos mais graves para estruturas especializadas.