Caso MC Gui: as redes sociais e a falta de empatia

"As redes sociais reduzem a noção de vergonha, diálogo e empatia", Aaron Balick, psicoterapeuta americano, autor de The Psychodynamics of Social Networking.

Por POR Arlaine Castro

Arlaine

Já que as relações humanas se modificaram tanto com a internet a ponto de um clique deixar uma foto, vídeo ou texto visível para boa parte da humanidade, vamos pensar que uma atitude pode destruir uma vida em milésimos de segundos. E não é com um tiro de arma, mas com um deslize do dedo. Por isso a falta de empatia aliada às redes sociais pode ser destruidora.

O recente caso do MC Gui que filmou e zombou de uma garota enquanto passeava na Disney nos mostra mais uma vez o que a falta de empatia do ser humano pode fazer. Zombar de alguém - neste caso uma criança e ainda por cima debilitada por um tratamento contra um câncer - só porque ela estava "diferente" a seu modo de ver. E qual é o modo padrão? Existe um?

Segundo o dicionário, empatia é a "1-habilidade de imaginar-se no lugar de outra pessoa. 2-É a compreensão dos sentimentos, desejos, ideias e ações de outrem. 3-Qualquer ato de envolvimento emocional em relação a uma pessoa, a um grupo e a uma cultura. 4-Capacidade de interpretar padrões não verbais de comunicação. 5- Sentimento que objetos externos provocam em uma pessoa."

Sendo assim, por que se achar no direito de ridicularizar o outro que nada lhe fez? É tão difícil se colocar no lugar do outro?

Ele apagou o vídeo, pediu desculpas, se disse arrependido e que não teve a intenção de causar nenhum mal. O caso se encaixa perfeitamente com o que diz o psicoterapeuta, escritor e palestrante americano Aaron Balick, sobre as redes sociais reduzirem a noção de vergonha, diálogo e empatia.

No livro The Psychodynamics of Social Networking: connected-up instantaneous culture and the self ("A psicodinâmica da rede social: cultura instantânea conectada e o eu", em tradução livre), o psicoterapeuta diz que "é possível envergonhar alguém sem ter a intenção, mas também fazer isso de forma proposital e, nesse caso, "é muito fácil expor a vítima em uma escala imensa", tendo em vista o tamanho do público que serve de testemunha, cita o artigo 'Redes sociais reduzem noção de vergonha, diálogo e empatia', diz psicoterapeuta americano", publicado por Renata Moura para o BBC News.

Para o psicoterapeuta, as redes sociais, ajudadas e instigadas pelas tecnologias móveis, geralmente ignoram nossos sistemas de autocrítica e nos dão uma sensação de onipotência que pode ter sérias consequências na esfera social.

Bem como foi feito por MC Gui, as pessoas se sentem no direito de fotografar estranhos, sem consentimento, para postar nas redes sociais e não pensam nas consequências dos seus atos. "As redes sociais operam como uma extensão do nosso mundo social. Nossos 'eus' são estendidos online e nos deixam vulneráveis à percepção dos outros de um jeito que nunca vimos", explica Balick.

Por isso, a noção de vergonha reduzida nas redes sociais é perigosa, segundo o psicoterapeuta. Ela torna todos mais vulneráveis - não só os alvos da postagem, mas também quem posta.

Com mais de 7 milhões de seguidores, em segundos, suas informações são compartilhadas nas redes sociais. Assim como é pra todo mundo. Mas o mesmo poder que a internet nos dá, ela nos tira. Assim foi com ele. Algumas horas após a fatídica postagem, o cantor perdeu contratos e shows. Ganhou seguidores (o que mostra que há quem pense igual a ele, talvez, e infelizmente), mas perdeu prestígio na vida social e profissional.

Marcas não querem se aliar a alguém que se mostrou sem empatia ao seu semelhante. Seguidores ficaram perplexos e criticaram a atitude do cantor. Perdeu fãs.

A internet por si mostra que não é "terra de ninguém", onde se pode postar o que quer sem arcar com as consequências. Há leis e antes delas, há os seguidores. Que são os primeiros a curtir, mas também a julgar.