Por que os casos recuperados não são publicados?

O Departamento de Saúde da Flórida não informa quantas pessoas se recuperaram do coronavírus no estado. Isso ocorre porque o estado não está medindo essa estatística. Eis o porquê.

Por POR | ARLAINE CASTRO

De acordo com estimativas da Universidade Johns Hopkins, pelo menos 1,5 milhão de pessoas já foram infectadas com o novo coronavírus no mundo. Destas, mais de 87 mil perderam suas vidas. Mas mais de 317 mil foram "recuperadas", segundo dados coletados na noite de 8 de abril.

Nos Estados Unidos, os recuperados passam de 23 mil. Mas o Departamento de Saúde da Flórida não informa quantas pessoas se recuperaram do coronavírus no estado. Isso ocorre porque o estado não está medindo essa estatística. Eis o porquê.

"Atualmente, não medimos a 'recuperação' e não esperamos ter essa designação a qualquer momento no futuro próximo. Recuperação pode significar muitas coisas - alguns países dizem que você se recuperou 14 dias após a infecção, mesmo se ainda estiver doente ou mesmo morto, com base em um algoritmo de computador que calcula a quantidade de tempo decorrido desde que um caso foi relatado pela primeira vez. A própria definição de recuperação é um problema contestado - você se recupera quando não é mais sintomático ou contagioso, quando obtém um resultado negativo no teste ou não precisa mais de hospitalização? Você já se 'recuperou' se sofrer efeitos a longo prazo de ter o vírus? Até que algumas dessas questões e definições sejam elaboradas nos níveis local, estadual e nacional, não forneceremos uma métrica para recuperação", escreveu o órgão em seu site oficial.

Histórias de pessoas "curadas" da COVID-19 estão vindo à tona aos montes à medida que realmente mais pessoas vão superando a doença e não apresentam mais sintomas.

No entanto, como cita a BBC Brasil na matéria "É possível falar em 'cura' para o coronavírus?" na qual aborda o assunto. "Há cautela em falar em "recuperação" em vez de cura, como tem feito a Organização Mundial da Saúde (OMS), tem a ver com incertezas sobre o coronavírus, como por exemplo seu potencial de transmissão após o desaparecimento de sintomas em uma pessoa já diagnosticada e até mesmo dúvidas sobre se uma nova infecção é possível — incógnitas sobre um vírus cujo potencial de afetar humanos é, afinal, novo", cita a publicação.

Na matéria especial desta edição: "Brasileira em Orlando conta como superou a COVID-19 mesmo com doenças preexistentes" (página 10), trazemos um relato especial de uma brasileira que mora em Orlando e se recuperou da doença depois de uns 20 dias entre o diagnóstico, o isolamento e o exame para conferir se estava mesmo "recuperada". Isso porque ela já tem problemas crônicos de saúde e conseguiu, não sem muito esforço, passar pela doença.

"Durante esse período tive perda do paladar, do olfato, reação alérgica com manchas pelo corpo, febre baixa por duas vezes. O pior é o cansaço, a debilidade. Dormia 15 horas,18 horas direto porque é um cansaço inexplicável. Levantava para tomar banho e saía dele exausta", detalha Cristina Faria.

Casos como o de Cristina são divulgados a todo momento, mas ainda há muita incerteza se realmente os pacientes estão livre do vírus e também se estão imunes a eles.

Um estudo considerando casos de Wuhan, cidade chinesa em que o vírus começou a infectar pessoas, mostrou que o vírus era detectável de oito a 37 dias de infecção, a depender do paciente.

Assim, se nem os pacientes com suspeita da doença estão sendo submetidos a testes moleculares no país, os que têm se recuperado da covid-19 tampouco são, por regra, testados para verificar se estão mesmo livres da doença.

A Universidade Johns Hopkins, que mapeia os números, também não detalhou como classifica casos "recuperados", afirmando por e-mail apenas que faz a estimativa a partir de notícias da mídia local de diferentes países.

Por isso, diante dessa incerteza quanto à cura dos pacientes infectados pelo novo coronavírus, muitos órgãos, como o departamento de saúde da Flórida, preferem nem contabilizar os casos dos "recuperados".