Os arrependimentos de Bush

Por Gazeta Admininstrator

Nada mais triste do que despedida de um presidente atolado no pior índice de aprovação da história de um país. Por isso, não se poderia esperar muita coisa da conferência de imprensa convocada pela Casa Branca em torno do Presidente George W. Bush, na manhã de segunda-feira, dia 12 de janeiro.

Exatamente 8 dias antes da posse de Barack Obama, havia pouca ou nenhuma excitação em torno do encontro final de Bush, como primeiro mandatário do país mais poderoso do mundo, com a mídia que nunca esteve ao seu lado, desde o primeiro dia de seus oito anos de mandato.

Estava sentado numa das lanchonetes do aeroporto de Fort Lauderdale aguardando embarque e pude assistir a mais de uma hora desse encontro que, pasmem, foi surpreendente.

O Bush que vi, corajosamente admitindo erros, claramente se mostrando arrependido de não ter sido “mais incisivo” na defesa da reforma imigratória e uma série de outros erros graves de sua administração, não era, em nenhuma hipoótese, o político limitado e conservador, refém da ala de extrema direita de seu partido. Era um Bush pedindo
desculpas.

Eu não creio que muita gente esperaria por isso. Afinal, um dos adjetivos mais comuns atrelados ao nome do presidente que sai foi o de “teimoso”, incapaz de mudar de idéias ou de estratégias, quando estava claro que suas escolhas não haviam dado certo ou haviam sido baseadas em informações mentirosas e tendenciosas.

Não passei a admirar e muito menos a gostar de Bush. Mas admito que ele ganhou pontos no quesito “coragem”. Sua atitude pode ser inspiradora para um Partido Republicano que precisa ressurgir das cinzas e que se vê, agora, dividido entre o primitivismo folclórico de uma Sarah Palin e a antiga face da direita séria, representada por Newitt Gringritch, o arqui-inimigo dos Clinton que parece ser o provável novo nome número 1 da – agora – oposição republicana.

A alternativa que o discurso “mea culpa” de Bush propõe é de um Partido que possa lutar para reconquistar o poder com uma mudança radical de propostas. O radicalismo religioso, a oposição à união gay, o ódio aos imigrantes, tudo que tem sido fortemente relacionado ao discurso republicano, tem que dar lugar a propostas de inclusão, sob pena dos possíveis 8 anos de Obama à frente do país, se tornarem 16 ou mais. Quem viver, verá.

Voltando a Bush. O presidente que sai não se absteve de tocar em antigas e dolorosas feridas. Como as imagens desconcertantes de seu sobrevoo, distante e desconectado com uma das regiões mais pobres do país, a bordo do “Air Force One” sobre as cidades devastadas de New Orleans e Baton Rouge. Sobre esse lamentável momento, Bush oferece desculpas frágeis.

Mas, pelo menos encarou a pergunta. Sobre as “Armas de Destruição em Massa” que foram a razão pela qual ele pediu e conseguiu autorização do Congresso para invadir o Iraque, Bush admitiu – finalmente – que foi um dos maiores “desapontamentos” de sua administração. Não qualificou de “erro”, entretanto.
Lamentou-se, afinal, de não ter usado todo o calibre político que tinha, na época, para “forçar a barra” em favor da reforma imigratória e da progressiva legalização dos então 12 milhões de indocumentados.

De fato, sendo sincero ou não, é preciso lembrar que em duas oportunidades Bush tentou aprovar a reforma, sem contar com o apoio necessário de ambos os partidos. O positivo – e temos sempre que olhar por esse lado – é que ele não sairá do governo pela porta dos fundos da vergonha e da negação. Sairá defenestrado pelas urnas e pela opinião pública, mas, certamente, atitudes como seus discursos, após a vitória de Obama, e no encontro de segunda-feira com a imprensa, ajudam a que ele preserve algum nível de altivez após oito dos piores anos presidenciais que se tem memória na história deste país.