Os Corruptos
É destaque na imprensa norte-americana e, conseqüentemente, também aqui nesta edi-ção do Gazeta, a preocupação e anunciadas ações do Serviço Nacional de Imigração com relação às muitas denúncias de corrupção por parte de seus agentes.
Essas alegações não são nenhuma novidade. Não é de hoje que se ouvem rumores dando conta da existência de diversos “esquemas” de facilitação da entrada de ilegais através dos aeroportos norte-americanos.
Obviamente que as alegações se-guem sendo anônimas. Mas, os rumores parecem já ter conseguido força e consistência suficientes para gerar uma ação das autoridades norte-americanas.
A existência de tais “esquemas”, que estariam “vendendo” - por quantias que variariam entre $15 mil até meros $1 mil – uma passagem sem problemas pelos guichês da Imigração, é considerado um “gravíssimo furo” nos esquemas de segurança do Homeland Security Department.
Miami e Fort Lauderdale estariam entre os locais mais visados pela suspeita,o que também não é novidade, já que, em diversas ocasiões, esses aeroportos foram considerados de “alto risco’ por serem dois dos mais importantes portões de entrada para os países do Caribe e da América Latina. Los Angeles, Houston, Newark e New York estariam na mesma categoria de “alto risco”.
A corrupção há muito tempo deixou de ser uma “marca registrada” das nações subdesenvolvidas. Esse “mito”, muito cultivado numa época em que se associava a desonestiudade à pobreza e ao subdesenvolvimento, foi bombardeado nos quatro cantos do mundo. Corrupção é problema grave na Rússia, no Oriente Médio, na Coréia, na emergente China e em toda a África. É uma “praga” de tal forma dissimulada que corre o risco de já ser até inserida no contexto da “normalidade da vida”.
O presidente Lula, por exemplo, deu um exemplo de honestidade e sinceridade ao admitir, na semana passada, (reportagem exibida pelas TVs Globo e Record Internacional) durante evento na Polícia Militar do Rio de Janeiro, que a corrupção “existe em todos os setores da sociedade e em todas as partes do mundo”.
E Lula foi mais longe. Ao dizer que seria injusto rotular a instituição policial brasileira como “corrupta”, quando todos sabem que há corrupção na política, no governo e, enfim, em todos os segmentos do país.
Antes de alguns dos leitores ficarem horrorizados com isso, reflitam.
É realmente salutar que Lula admita estes fatos, de público e com uma atitude de inconformidade, mas sem hipocrisia.
Sim, porque estamos vivendo uma fase em que não haverá, muito breve, ninguém com telhado sólido o suficiente para que possa jogar, sem medo, pedra no telhado alheio.
Então como se combate uma doença? Reza o bê-a-bá da medicina que o primeiro passo para se erradicar uma enfermidade é tomar-se absoluta cons-ciência dela e dos males que ela causará ao paciente.
A corrupção é fruto da maré de desigualdades que assola um planeta democratizado pela informática, globali-zado a mão de ferro pela ganância das corporações, mas radicalmente dividido nos corações e bolsos de seus quase 8 bilhões de habitantes.
Se o reconhecimento dessa tragédia em escala mundial é o primeiro passo para se iniciar um processo de “cura”, que o segundo passo não demore muito a ser tomado. Ou seja, que os “figurões” da corrupção, os grandes engenheiros das maracutaias, sejam exemplarmente punidos.
Quanto aos fiscais da Imigração nos aeroportos, esta é uma face que muitos norte-americanos ignoram de seu próprio povo. Uma imensa hipocrisia com relação ao fato de que se fala uma coisa e se faz outra completamente diferente.
Afinal, somos todos humanos e a corrupção deve mesmo ter começado quando a serpente fez Adão se esquecer dos compromissos com Deus e se deixar corromper, comendo a maçã. Pelo visto, está cada vez mais distante o dia em que veremos Adão se redimir e votar pela lei e pela honestidade no planeta.
