Os homens transformados em máquinas de matar

Por Arlaine Castro

Uma verdade já constatada pelo mundo, quiçá pela própria sociedade americana, é a de que o exército da maior potência mundial há tempos transforma homens em máquinas de matar. Da noite para o dia, jovens e adultos estão em um campo de guerra onde são obrigados a matar para não morrer.

Mas, o que fica na mente após tudo que passam em batalha é o que deveria ser o mais preocupante. E o pós-guerra? Como continuar vivendo como uma pessoa “normal”? Não é à toa que, quando retornam dos campos de batalha, milhares de soldados tornam-se vítimas de TEPT – Transtorno por Estresse Pós-Traumático - uma doença que condecora soldados com paranoia, vícios e suicídio.

Falando em atos e ações comandados pela mente, Esteban Santiago, 26 anos, um ex-combatente da Guerra do Iraque que matou cinco pessoas e feriu outras oito em um súbito ataque no Aeroporto de Fort Lauderdale (FL) no dia 6 de janeiro, alega sofrer de transtornos psicológicos e por isso chegou a ser afastado da Guarda Nacional no Alasca no final do ano passado. Podemos presumir que Santiago é apenas mais uma vítima do “sistema” que o transformou em uma “máquina” de matar.

A guerra em números Um levantamento publicado em 2008 mostra que os EUA ficaram no Iraque por mais tempo do que lutaram na 2ª Guerra Mundial. Foram 4 anos na luta contra Hitler, e 8 de conflitos pós-Saddam. Se contarmos as operações no Afeganistão, 1,5 milhão de americanos serviram em batalha entre 2001 e 2007. Desses, 4 mil morreram e 60 mil foram feridos ou caíram doentes. O principal problema psicológico que aflige os ex-combatentes de guerra inclui flashbacks do combate, paranoia constante e a incapacidade de conviver no ambiente familiar, social e profissional. É o nome atual do que ficou conhecido como trauma de guerra ou transtorno de estresse pós-traumático.

Estima-se que 30% dos veteranos de guerra do Vietnã, 10% da guerra do Golfo, de 6% a 11% da guerra no Afeganistão e de 12% a 20% dos veteranos da guerra do Iraque foram vítimas do TEPT. Este é um transtorno de ansiedade que pode desenvolver em qualquer pessoa após a exposição a um ou mais eventos aterrorizantes.

Um estudo do Departamento de Defesa dos EUA mostra que 60% dos fuzileiros navais que estiveram no Iraque e tiveram sintomas de depressão grave e TEPT acabaram não procurando ajuda por medo de prejudicar sua carreira ou de ser tratados de forma diferente pelos companheiros de farda.

De acordo com o site HuffPost, quase 8 milhões de adultos americanos sofre de TEPT em qualquer ano, segundo o Departamento Americano de Questões dos Veteranos de Guerra. Além disso, 8% da população geral apresenta TEPT em algum momento da vida.

A liquidez da vida moderna O livro “Modernidade Líquida”, do sociólogo polonês Zygmunt Bauman (que morreu no último dia 9, aos 91 anos) traz uma reflexão sobre as mudanças que a sociedade moderna atravessa desde o individualismo até as relações de trabalho, família e comunidade, onde o tempo e o espaço deixam de ser concretos e absolutos para ser líquidos e relativos.

Bauman levanta uma questão sobre o conceito de liberdade, quando questiona se a mesma seria uma benção ou maldição, ou seja, uma benção no sentido que o indivíduo pode agir conforme os seus pensamentos e desejos, mas na contramão fala de uma maldição, já que recai sobre ele a responsabilidade por seus atos e ações.