Os “te amo” que se perdem ao vento

Por Adriana Tanese Nogueira

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Há quem raramente fale “te amo”, e quem muito o fala. Por que será? Imaginemos a situação em que uma pessoa se sente, no fundo de si, em dívida para com outra. A dívida nasce da percepção de não estar dando à outra o que esta merece, ou não estar retornando o que se recebeu ou, enfim, por não cumprir o que se prometeu. Esta outra pessoa é sua esposa (ou seu marido). O “te amo” funciona como uma forma de pedir desculpas, manter a relação e... se assegurar um pouco de paz de consciência.

Mas, se a pessoa em questão se acomodar na falação do “te amo”, suas intenções originais escorregarão rapidamente para o lado sombrio. Quanto mais a situação permanecer inalterada, ou seja, o “te amo” continuar gerando “conforto emocional” mesmo que por uns momentos. Mais difícil será passar à fase de demonstrar o amor com os fatos. É desta forma que se arrastam relacionamentos que provocam confusões: coração e mente se contradizem.

Pessoas ingênuas e sonhadoras - como muitos nos seus primeiros 30-40 anos de vida (dependendo de cada um) - tendem a acreditar nas palavras. É normal – quando elas correspondem ao que se sente. No início de uma relação, a emoção do encontro toma o controle e a falta de conhecimento sobre a personalidade da outra pessoa, que só se adquire com a convivência, induz a dar crédito ao que se ouve. Afinal, só se ama quando se confia.

Com o passar do tempo, pode-se descobrir a existência de uma cisão entre as palavras que a pessoa verbaliza e os fatos que ela apresenta, seus comportamentos. Ou, ainda, entre o sentimento que se sente por ela e o que ela nos mostra. Acontece então de nos darmos conta que o “te amo” que expressa uma verdade do sentimento não necessariamente expressa uma verdade da vida. Uma coisa é sentir e ser sinceros com o que se sente (muita gente nem isso consegue fazer), outra coisa, é transformar esse sentir numa realidade de vida, num comportamento, numa atitude, num ser real!

A trava que ocorre aqui é aquela que uma pessoa encontra quando descobre que para manter uma relação de amor ela precisa assumir algumas mudanças em si e em seus comportamentos. E acontece dela, simplesmente, no fundo do fundo, não querer. Ela não quer se dar ao trabalho da mudança. Qualquer transformação, acomodação, sinergia, união, relação custa esforço, subverte hábitos, questiona crenças, arranca do comodismo.

Amar é um trabalho. Significa que uma relação (de verdade) não pode ser usada como um meio de gratificação pessoal. Para isso há parques diversão, drogas, filmes, viagens, carros poderosos e todo um rol de opções que servem como muletas para aguentar a dor do viver. O amor não cai nesta categoria. Talvez seja por isso que tantas pessoas hoje “ficam”. Enquanto isso, há quem encha o ar à sua volta verbalizando muitos “te amo” que, porém, se perdem ao vento, pois nada mais são que ar emitido pela boca e que, no final das contas, tem o mesmo valor do ar (e gás) emitido pelo corpo!