Os verbos têm direitos?

Por Rodrigo Maia

Vou começar o texto de hoje com uma pergunta: como você conjuga o verbo abolir na primeira pessoa, no tempo presente? Com o verbo “andar”, você diria: “Eu ando”. Então, com o verbo abolir, você diz: “Eu...??”

E se o exemplo fosse para o verbo colorir? Você diria: “Eu....??”

Conjugar verbos deveria ser uma tarefa muito simples e comum entre os falantes nativos de uma língua. Afinal, todos os dias, centenas de vezes, na fala e na escrita, conjugamos verbos. Há verbos que são usados mais de cinquenta vezes em um único dia. Portanto, não deveríamos ter dúvida, certo? Errado! Recebo dezenas de mensagens sobre o assunto. Por isso, hoje, quero falar sobre os verbos defectivos.

Estes verbos são aqueles que apresentam uma ausência em determinadas conjugações e formas verbais. A palavra defectivo significa algo que está incompleto, imperfeito. No caso do verbo, é aquele que não se conjuga em todas as formas possíveis. Veja os exemplos.

Verbo ABOLIR EU - ______ TU - aboles ELE - abole NÓS - abolimos VÓS - abolis ELES - abolem

Verbo ADEQUAR EU - ______ TU - _______ ELE - ______ NÓS - adequamos VÓS - adequais ELES - _______

Verbo COLORIR EU - ______ TU colores ELE colore NÓS colorimos VÓS coloris ELES colorem

As formas ausentes se justificam por uma questão sonora. Os sons das supostas flexões, como no caso dos verbos colorir e abolir ficariam, por exemplo: “EU COLORO” ou “EU ABOLO”. Para evitar essa dissonância, esses verbos não possuem conjugação em determinadas pessoas, isto é, possuem ausência de conjugação. São os tais verbos defectivos.

Como fazemos para resolver a questão? Do ponto de vista gramatical, o indicado é usar formas equivalentes que não alterem o significado da expressão. Veja algumas possibilidades

a) No lugar de “Eu ______ (colorir) o caderno”, você pode usar: “Eu pinto o caderno” ou “Eu cubro com cores o caderno”

b) No lugar de “Eu ______ (abolir) a pena de morte”, você pode usar: “Eu anulo a pena de morte” ou “Eu elimino a pena de morte”

Com as substituições sugeridas, o sentido permanece igual.

Porém, como eu sempre digo aqui na coluna, as regras de um idioma podem mudar. E isso está acontecendo com um verbo defectivo, na Língua Portuguesa. O verbo adequar, citado como um exemplo de verbo defectivo no texto de hoje, já possui conjugação completa de acordo com o dicionário Houaiss. Para este dicionário, já são consideradas válidas as formas EU ADÉQUO, TU ADÉQUAS, ELE ADÉQUA, NÓS ADEQUAMOS, VÓS ADEQUAIS, ELES ADÉQUAM.

Há outros verbos que geram dúvidas.

Como você conjugaria os verbos RIR, EXPELIR e PERSUADIR? O correto é: “EU RIO, EU EXPILO e EU PERSUADO”. O que você achou dessas formas? Estranhas, normais? Com certeza, a conjugação de verbos em Língua Portuguesa é motivo para polêmicas e dúvidas. Já recebi mensagens de alguns brasileiros, que vivem no interior de grandes Estados, que perguntaram se existe o verbo PONHAR, com o sentido de colocar. Como você conjugaria esse verbo? Será que ele existe? Este vai ser o tema de no próximo texto. Até lá!