Editoria: Ouvindo o outro para não criar um inimigo

Por Marisa Arruda Barbosa

É sempre mais fácil apontarmos o inimigo como algo distante, até que vemos que ele está bem mais perto do que imaginamos. Não digo só em relação à distância física, mas em relação às ideias mesmo. Embora tenha sido politicamente mais fácil se referir ao atirador de Orlando como alguém inspirado em ideias do grupo terrorista Estado Islâmico, ao que parece, ele também se inspirou em ideias homofóbicas que estão em toda a parte ou que mesmo podem ter vindo de sua própria educação em casa.

Antes de colocarmos mais dinheiro para lutar contra o Estado Islâmico e no Homeland Security, temos que conseguir controlar um problema dentro de casa.

Ou seja, para criarmos um “inimigo” que poderá ser o próximo atirador em massa – sim, pois não creio que depois que nada foi feito no caso da escola Sandy Hook, há poucas esperanças de que algo seja feito agora em relação ao controle de armas – basta repetirmos a homofobia, a discriminação e continuarmos ignorando aqueles com problemas psicológicos.

Depois disso, basta continuarmos com o acesso fácil a armas de grande porte. Nada foi feito em Sandy Hook, quando um jovem atirador matou não só a própria mãe, como crianças de uma escola elementar, pois o direito constitucional do porte de armas é mais sagrado que tudo em uma nação fundada nos “princípios de liberdade”.

Eu entendo isso, pois é um dos mitos fundamentais dos Estados Unidos e não vejo mesmo algum político conseguindo mudá-lo. No entanto, e se chegássemos a um meio termo?

Eu realmente não entendo de armas, mas por que um Rifle R-15, que dispara vários tiros por minuto, pode ser vendido para um civil, ou alguém que não esteja em uma grande guerra? Por que não limitar o tipo de arma que pode ser vendida em lojas, para manter o respeito à liberdade daqueles que têm armas como hobby ou para autodefesa? Quem precisa disparar vários tiros por minuto?

Em um vídeo que circula nas redes sociais, uma ex-agente do FBI disse que temos que aprender a “ouvir o inimigo”. Dizer que os ataques foram feitos somente porque vieram de “homens maus” não nos levará a lugar nenhum. Pode servir para explicar aos seus filhos, mas nós, adultos, precisamos ter um conhecimento mais profundo da situação para irmos mais além.

Eu acrescentaria que mais do que nunca temos que ouvir o outro para não criarmos um inimigo. No caso da maioria dos ataques em massa nos EUA, o “inimigo” vivia dentro da cultura americana e não em uma aldeia distante sendo treinados por jihadistas. O que cada um desses atiradores queria? Por que eles tinham tanto ódio? No caso de doença mental, será que não havia um remédio, alguém para ouvi-lo?