O pai e a função paterna na adolescência - Pais e Filhos

Por Adriana Tanese Nogueira

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A adolescência é o delicadíssimo tempo da nossa vida em que lenta e inexoravelmente se “cai na real”. Para quem já é adulto e está imerso na realidade, é facilmente compreensível que este processo seja doloroso e difícil. “Realidade” significa limites, um mundo desconhecido que nos é estranho e com o qual não sabemos lidar. Apesar de nosso corpo adolescente nos denunciar como supostos “adultos”, nada em nós é ainda adulto. Adolescência é conflito e contradição à flor da pele.

Adolescentes são tímidos, agressivos, retraídos, desconfiados e assustados (apesar de não admitir nada disso). Mudam de humor facilmente, alternando a alegria frente à grandiosidade das forças vitais que sentem pulsar nas veias ao assombro e à raiva perante sua própria ignorância a respeito do que fazer, como fazer e por onde ir, à falta de oportunidades e de recursos.

Ser adolescente não é fácil. É como ter um milhão de dólares em mãos e não saber contar até um milhão, além de não ter noção de investimentos, cálculo e lucratividade. Como o Pinóquio do famoso conto, o adolescente facilmente dá ouvidos ao Gato e à Raposa, os espertalhões no caminho, quando ele legitimamente busca ampliar os horizontes do próprio mundo.

É neste contexto que a função paterna faz toda a diferença. É interessante observar que é justamente na hora em que os filhos se encontram nessa encruzilhada da vida que os pais estão ausentes. Um grande número de separações ocorrem nesta fase da vida dos filhos, o que não teria repercussões tão sérias se os pais se mantivessem por perto. Melhor ainda, se houvesse uma função paterna saudável e estruturada em pelo menos um dos genitores para dar conta de assistir os filhos nesta transição da vida que pode ser considerada tão delicada quanto a passagem do útero para a vida extra-uterina.

A função paterna deveria ser parte da psique de homens e mulheres, independentemente do sexo. Originariamente pertencia aos homens, mas estes nem sempre estão a par da situação enquanto sempre mais mulheres têm assumido papeis multidimensionais na vida de seus filhos. Entretanto, porque provém de um modelo masculino encarnado por homens muitas vezes imaturos, a função paterna precisa evoluir – em ambos os sexos.

Para o adolescente, a função paterna serve para lhe dar o chão de onde partir para começar a construir sua vida, ajudando-o a orientar-se e discriminar entre as várias facetas da realidade. Esta função deve ser suficientemente flexível para permitir ao filho a liberdade de criar caminhos novos para si mesmo, mas sem ter que passar novamente pela invenção da roda. O pai simbólico é aquele gigante sobre cujo ombros o filho senta para dalí enxergar o mundo. E o pai é um “gigante” não só por causa de sua experiência pessoal, como pelo conhecimento acumulado de gerações que ele carrega. Atenção, porém, o “pai” simbólico “gigante” deve ter a delicadeza de não fazer pesar sua estatura moral e intelectual à já baixa auto-estima de seu filho. Muitos genitores adoram exibir seus conhecimentos e experiência perante os filhos, estabelecendo assim uma competição injusta e infantil.

A adolescência requer dos pais mais um ato de sacrifício. Se no início da vida, o sacrifício era principalmente material (investimento de tempo e energia física para cuidar do bebê), neste novo início se trata de um sacrifício simbólico que requer um conjunto de habilidades morais, psicológicas e emocionais que não é objetivamente fácil possuir e administrar. Talvez esta seja uma das razões por que tantos pais se afastam de seus filhos na hora em que estes mais precisam deles.