Pancreatite - um mal que afeta cães e gatos - Saúde Animal

Por Dra. Paula Ferreira

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A pancreatite é a inflamação de um órgão chamado pâncreas. O pâncreas está localizado bem pertinho do estômago, do duodeno e do fígado; e produz enzimas que ajudam na digestão de carboidratos e proteínas. O pâncreas também é responsável pela produção de hormônios que regulam o açúcar do sangue (insulina e glucagon). No caso da pancreatite, a produção e armazenamento das enzimas digestivas fica fora de controle e uma série de eventos criam uma situação dolorosa e, muitas vezes, extremamente grave.

Quando uma inflamação no pâncreas ocorre, as enzimas que estão armazenadas no pâncreas extravasam e iniciam uma autodigestão, ou seja, o próprio órgão começa a se destruir. Com o avanço deste processo, o fígado também é afetado, pois é um vizinho bem próximo do pâncreas. As toxinas resultantes desta destruição de tecidos atingem a circulação sanguínea, causando efeitos sistêmicos e muita dor no paciente. Se a pancreatite for severa, o pâncreas pode perder a capacidade de produzir insulina, e, consequentemente, o animal se torna diabético (a diabetes causada por pancreatite pode ser reversível ou irreversível).

Várias são as causas da pancreatite, mas sem dúvida a mais comum é relacionada a alimentação. Animais que recebem uma dieta com alto teor de gordura, comidas de baixa qualidade, ou um cão que “visitou” a lata de lixo e ingeriu um alimento estragado correm o risco de contrair pancreatite. Algumas raças caninas são predispostas à pancreatite, como por exemplo, o schnauzer, o poodle miniatura e o airdale terrier. Alguns medicamentos também podem causar pancreatite (algumas drogas usadas em quimioterapia, certos antibióticos, etc). Um evento traumático que afeta o pâncreas, como uma cirurgia ou um acidente, também pode desencadear o processo inflamatório, assim como tumores no pâncreas. Em muitos casos, a causa da pancreatite é impossível de determinar.

Pancreatite aguda ou crônica Como a pancreatite pode se apresentar de forma aguda ou crônica, os sintomas podem variar: desde um moderado mal-estar inespecífico, vômitos e diarreias esporádicos ou agudos, até o abdômen agudo (dor severa localizada no abdômen). Sem dúvida, dependendo do grau de severidade da pancreatite, a morte súbita pode ocorrer.

A pancreatite crônica muitas vezes passa despercebida pelo dono do animal, pois a sintomatologia ocorre gradualmente. Infelizmente, sem tratamento adequado, a inflamação crônica do pâncreas leva a alterações permanentes, como a fibrose, que altera permanentemente a funcionalidade do órgão e sua habilidade de produzir enzimas digestivas (e em alguns casos também perde a habilidade de produzir insulina).

O diagnóstico da pancreatite é feito baseado nos sintomas apresentados, na elevação das enzimas pancreáticas amilase e lipase no soro sanguíneo, e, mais recentemente, no teste de lipase pancreática específica canina. Infelizmente, não existe um teste de lipase pancreática específica para felinos.

Diagnóstico Exames radiográficos do abdômen auxiliam o veterinário a chegar ao diagnóstico de pancreatite, porém, não é um exame muito preciso, é apenas um exame complementar. As radiografias também ajudam a eliminar a possibilidade de haver um objeto estranho no trato gastrointestinal, que poderia estar produzindo os sintomas de vômito e diarreia. Ultrassom do abdômen é um teste bastante valioso, pois além de avaliar a forma e textura do pâncreas e tecidos adjacentes, também permite visualizar tumores, se presentes.

A pancreatite aguda é extremamente dolorosa e exige tratamento imediato. O animal pode apresentar um quadro agudo de vômito e diarreia (com ou sem sangue), desidratação, falta de apetite, letargia extrema e, em alguns casos, a inflamação é tão forte que se nota o abdômen inchado e avermelhado.

Risco de infecção do sangue

Devido ao extravasamento das enzimas e da autodigestão do pâncreas e tecidos adjacentes, uma necrose aguda e translocação de bactérias podem levar à septicemia (infecção do sangue) e à morte. A desidratação rápida do paciente, se não for corrigida com soroterapia intravenosa agressiva, também pode levar à morte do animal. Portanto, independente da causa da pancreatite, o tratamento deve incluir a reposição dos fluídos corporais perdidos pelo vômito e pela diarreia, antibióticos e controle e manejo da dor. Esse tratamento é intensivo e exige que o animal esteja hospitalizado e monitorado 24 horas por dia. A duração do tratamento varia com a intensidade dos sintomas, mas de uma forma geral o animal deve permanecer no hospital veterinário de 3 a 7 dias.

O tratamento da pancreatite pode sair muito caro, pois na maioria das vezes é prolongado e intensivo. Portanto, algumas medidas simples, principalmente no que diz respeito à alimentação dos animais de estimação, podem ajudar a evitar esta doença:

Alimentação balanceada Uma alimentação balanceada e sem excesso de gordura e com a quantidade de carboidratos indicada para a espécie de animal. Lembrem-se que cães e gatos tem necessidades alimentares diferentes, portanto é importante que a comida seja específica para eles. Procure sempre as marcas de alimentos mais conhecidas por qualidade e não por baixo preço.

Evite a troca súbita de tipo de alimento. Se você precisa mudar o tipo de comida do seu cão ou gato, sempre faça a mudança de maneira gradual, ou seja, comece a introdução do novo alimento aos poucos. Ao longo de vários dias, aumente a quantidade do alimento novo e diminua a quantidade do alimento anterior, até que a mudança esteja completa. O veterinário do seu bichinho pode te auxiliar nesta transição.

Se o seu pet come comida caseira, prepare a comida com muito cuidado, e, com a ajuda profissional do veterinário, a comida deve ser balanceada de acordo com a espécie. Evite dar sobras de comida, principalmente as que contem muita gordura ou temperos fortes. Comida caseira tem teor de umidade mais alto do que a ração seca e, portanto, estraga mais rápido. Se o animal não terminar a comida, tire o prato e lave bem a vasilha.

Latas de lixo devem estar sempre fora do alcance dos animais de estimação. Uma única visita ao lixo pode significar uma pancreatite aguda e suas consequências.

Visitas regulares ao veterinário ajudam a detectar doenças no início do processo, portanto, não esqueça as consultas periódicas. Todo cuidado é pouco!

Dr. Paula Ferreira - Ferreira Animal Hospital  | www.ferreiravetcare.com