O Papa dos imigrantes - Editorial

Por Marisa Arruda Barbosa

A expectativa de que o Papa Francisco tocasse no tema da imigração em sua visita aos Estados Unidos já foi superada em seu primeiro discurso no dia 23, quando ele afirmou, diante do presidente, que visita o país como “filho de uma família de imigrantes”.

“Como filho de uma família de imigrantes, me alegra estar neste país, que foi construído em grande parte por tais famílias”, disse o Papa em seu discurso no jardim da Casa Branca.

As palavras do pontífice constituíram a primeira mensagem direta de sua postura ante o clamor de milhões de imigrantes indocumentados nos Estados Unidos, que confiam na influência do Papa para que o Congresso retome o debate e aprove uma reforma imigratória estancada desde junho de 2013.

Entre esses grupos de imigrantes está o grupo de mulheres “100 Women, 100 Miles”, que marchou até Washington, durante uma semana, para ver o pontífice na capital do país. A marcha foi inspirada nas mensagens do Papa sobre os imigrantes.

“Migrantes e refugiados não são peças em um tabuleiro de xadrez da humanidade”, escreveu o Papa em uma mensagem de 2013. “Eles são crianças, mulheres e homens que deixam ou são forçados a deixar suas casas por várias razões, que têm em comum um desejo legítimo de saber, ter e, acima de tudo, de serem maiores”.

Em seu discurso na Casa Branca, Francisco também se classificou como “irmão” dos EUA e antecipou que atentará, diante do Congresso na quinta-feira, os governantes a guiar o país com fidelidade a seus princípios fundadores.

O Papa, recebido com todas as honrarias e saudado pessoalmente pelo presidente Barack Obama, não poderia ser melhor aliado nesse momento da presidência. Em seu discurso de boas-vindas ao Papa, Obama destacou sua mensagem de misericórdia com refugiados e imigrantes e disse a Francisco que ele relembra que a mensagem mais poderosa de Deus é a misericórdia. “Isso significa das as boas-vindas ao estrangeiro com empatia e um coração verdadeiramente aberto”, disse o presidente, recordando que a mensagem é tanto para aqueles que escapam de seus países em guerra ou aqueles que deixam suas casas em busca de uma vida melhor.

“Significa que temos que ensinar compaixão e amor pelos marginalizados, para aqueles que sofrem e aqueles que buscam redenção”, disse Obama.

Obama e Francisco compartilham das mesmas ideias em relação à luta pela reforma da imigração e melhor distribuição da riqueza. Obama tem lutado desde que está no poder, há seis anos e meio, pela reforma imigratória e programas sociais, mas obteve pouco apoio, principalmente agora que o Congresso está dominado pelos republicanos.

“Você nos recorda que sob os olhos de Deus nossa medida como indivíduos e como sociedade não está determinada pela riqueza, o poder ou a celebridade, mas pelo bem que aplicamos o chamado das escrituras a elevar o pobre e o marginalizado”, disse o presidente.