Para argentinos, Brasil deve 'pagar' por status de líder

Por Gazeta Admininstrator

Números favoráveis ao Brasil estão afetando relações com o vizinho, dizem analistas
Se o Brasil quer ser o líder da região, deve pagar um preço por esse status. Esse é o entendimento do governo do presidente Néstor Kirchner e dos industriais argentinos.
“Brasil e Argentina necessitam (um do outro) e aqui ninguém discute a importância do Brasil e seu papel no contexto mundial”, afirmou Eduardo Sigal, subsecretário de Integração Econômica da Chancelaria Argentina (equivalente ao Itamaraty).

“Mas isso não pode ser gratuito ou às custas dos outros sócios do Mercosul”, acrescentou o subsecretário, em entrevista a uma emissora de televisão argentina. O mesmo discurso tem sido feito pelos industriais do país.

“Quem mais ganhou com o Mercosul? O Brasil. Então, já não discutimos sua estratégia permanente para ser o líder da região. Mas, sim, o que recebemos em troca, como compensação. Até aqui, só estamos tendo prejuízos”, diz um assessor da União Industrial Argentina (UIA).

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“Se o Brasil quer mesmo ser líder, deve abrir a carteira, ajudando os parceiros comerciais a também avançarem”, conclui o representante da UIA.

Comércio bilateral

O argumento dos vizinhos é reforçado pelos números do comércio bilateral entre Brasil e Argentina.

Apesar da diferença de câmbio entre o real e o peso frente ao dólar ser mais favorável para as exportações argentinas, a balança comercial entre os dois países tem confirmado melhor tendência para o Brasil, como reconheceu o secretário de Comércio Internacional da Chancelaria argentina, Alfredo Chiaradia.

De acordo com a consultoria Abeceb.com, especializada no comércio entre os dois países, o déficit comercial da Argentina com o Brasil duplicou em abril frente ao mesmo mês do ano passado.

Em 2004, as importações argentinas de produtos brasileiros subiram 61,6% e chegaram a US$ 7,3 bilhões. Na mão inversa, no mesmo período, as exportações argentinas para o Brasil alcançaram US$ 5,5 bilhões, com uma alta de 19,2% na comparação com o ano anterior.

Os números parecem afetar a relação entre os presidentes Lula e Kirchner, como reconheceram interlocutores do governo argentino. “Fernando Henrique e Carlos Menem pensavam bem diferente, mas se davam bem”, afirmam. “O mesmo não percebemos entre Lula e Kirchner.”