Para salvar o irmão doente, criança egípcia enfrenta 10 dias de travessia pelo Mediterrâneo

Por Gazeta News

No dia 16, cerca de 50 crianças chegaram sozinhas à Lampedusa.
[caption id="attachment_123312" align="alignleft" width="300"] No dia 16, cerca de 50 crianças chegaram sozinhas à Lampedusa.[/caption]

Ahmed partiu sozinho do Egito e, depois de 10 dias navegando pelo Mediterrâneo, chegou à Itália com o objetivo de salvar seu irmão menor, Farid, 7 anos, que sofre de uma doença no sangue e estava em um acampamento de refugiados em Lampedusa. Resgatado há quatro dias dentro de um bote no Mediterrâneo com outra centena de migrantes, Ahmed tinha nas mãos o certificado de saúde do irmão, atestando seu caso de trombocitopena, ou plaquetopenia (redução das plaquetas no sangue).

A família confiou a Ahmed todas as economias que tinha, trabalhando no plantio de tâmaras, e um tio ajudou a pagar os atravessadores, negociando seu único terreno. O menino partiu do vilarejo de Rashid Kafr El Sheikh, a 130 km do Cairo, escondido em um caminhão que transportava animais. Alguns dias depois, conseguiu chegar à cidade portuária de Alexandria.

Segundo Ahmed Mahmoud, funcionário da OIM (Organização Internacional para a Migração) em Lampedusa, “foram dez dias no mar, porque o trajeto partindo do Egito é mais longo do que da Líbia”, disse em entrevista à BBC Brasil. Mahmoud, também egípcio, foi justamente quem primeiro ouviu a história do menino.

A família é muito pobre e o hospital mais próximo de onde moram fica a quatro horas de distância”, contou Mahmoud. Desde a chegada de Ahmed, ele está sempre com o menino, agora abrigado em um campo de acolhida em Lampedusa.

“O custo de cirurgias e tratamentos médicos no Egito é muito alto. Até os remédios custam muito caro lá”, explicou Mahmoud. Segundo Ahmed lhe contou, o custo da primeira cirurgia do irmão seria de 30 mil liras egípcias (cerca de 4 mil euros, ou R$ 14,5 mil) e os exames não saíam por menos de 500 euros (R$ 1,8 mil). O trabalho de todo um ano da família do menino na colheita, porém, rende cerca de 3 mil euros (R$ 10,8 mil).

O governo italiano se prontificou a ajudar as duas crianças e um hospital da região de Florença respondeu oferecendo tratamento para Ahmed e apoio para a família.

Frequentes, os desembarques de migrantes na ilha de Lampedusa trazem cada vez mais crianças. “Na terça, outras 900 pessoas foram trazidas para Lampedusa, a maioria deles parte do Egito, Gâmbia, Guiné-Conacri e Costa do Marfim, e entre elas cerca de 50 crianças sozinhas, muitas delas egípcias”, contou à BBC Brasil o médico Pietro Bartolo, responsável pelo ambulatório de Lampedusa.

Segundo dados da Organização Internacional para Migração (OIM), entre janeiro e junho deste ano, 7.567 crianças migrantes desembarcaram nos portos da Itália. Dessas, 92% estavam desacompanhadas ou perderam seus parentes durante o trajeto. Fonte: BBC.