Parque no México simula a travessia na fronteira

Por Gazeta News

ecoalberto

Depois que uma aldeia chamada El Alberto, no estado mexicano de Hidalgo, se tornou uma cidade fantasma, há 11 anos, foi criado um parque ecológico com a finalidade de alertar outras pessoas sobre os perigos da travessia da fronteira entre Estados Unidos e México. Hoje em dia, a aldeia tem 800 habitantes. No passado, a maioria dos moradores deixou suas terras para viver ilegalmente nos Estados Unidos, mas a cada ano o risco de chegar ao outro lado se traduzia em menos histórias de êxito e mais mortes.

No parque Ecoalberto, a expedição é iniciada às 8pm. A inscrição custa 250 pesos, ou $16.17 dólares. As regras são claras. Tem que trazer água e obedecer “aos coiotes”. Se a imigração (polícia americana) e os cholos (ladrões) atrapalham o grupo, este nunca deve delatar o nome do guia e apenas dizer: “Viajamos sozinhos, vamos para o norte”. E correr. Não deixar de correr.

“Isto não é um treinamento. Buscamos criar consciência e que a experiência seja uma fonte de emprego para o povo logal. Queremos dar outro futuro a nossos filhos para que não terminem como nós, que nem terminamos o primário”, explica Simón, um dos guias. “O que vão viver não é nem 5% do que significa cruzar a fronteira”.

El Alberto se transforma por uma noite no Deserto de Sonora, fronteira do México com os Estados Unidos. O jogo começa. Os participantes, em sua maioria jovens e mexicanos, saem correndo seguindo as ordens dos guias.

Uma caminhonete com sirenes da polícia rodeia o grupo.

“Patrulha de polícia. Rendam-se. Nós estamos aqui para ajudar vocês. Nós temos tamales (prato tradicional feito de massa à base de milho)”, escuta-se, em inglês, a frase dita por um alto-falante.

Os jovens voltam a correr, mas alguns passos depois topam com os cholos.

“Todos quietos. As mulheres para lá. O que está olhando?”, grita um dos supostos ladrões. “Os cholos são mexicanos que estão à espreita para roubar todos os que querem cruzar a fronteira. Te apontam pistolas, estupram as mulheres na sua frente e, se você não obedece, te matam”, explica Simón.

Todos desempenham seus papéis. Assim, entre falsos tiros, esconderijos, encontros com narcotraficantes e caminhadas na lama, poças, pedras e túneis sufocantes, os jovens percorrem quase 3 km em quatro horas. Apenas alguns chegam ao outro lado, e os guias passam a contar fragmentos de suas vidas. Fonte: El País e O Globo.