Pesquisa nos EUA afirma que pobreza é causadora de problemas mentais

Por Gazeta Admininstrator

Tem sido uma questão tipo “o-ovo-ou-a-galinha” por décadas: será que a pobreza em condição miserável gera as doenças mentais, ou será que é a aflição das doenças mentais que arrasta as pessoas para a pobreza? Os dois fatores claramente parecem caminhar juntos, mas qual deles é a causa e qual deles é a conseqüência?

Essa semana, o pesquisador Christopher Hudson, de Massachusetts publicou o que possivelmente é o estudo mais amplo já realizado sobre essa questão.

O estudo, que acompanhou pacientes de 1994 até 2000, concluiu que “existem evidências cada vez mais fortes de que o status socioeconômico ocupa realmente uma dimensão muito importante no que diz respeito às doenças mentais, embora obviamente não seja a única dimensão”.
O estudo também destacou o contraste marcante entre as comunidades mais ricas e as mais pobres de Massachusetts, quanto à incidência das doenças mentais. Entre os mais ricos, o índice de perturbações mentais, sérias a ponto de levar a freqüentes internações hospitalares, foi de cerca de 4%, comparado com o índice que varia de 12% a 13% entre os mais pobres --sendo que essa é uma estimativa conservadora, segundo Hudson.

O pesquisador reconheceu que o estudo, focado em 34 mil pacientes que foram internados pelo menos duas vezes, enfrentou algumas questões ou problemas metodológicos.

Em particular, o código postal (ZIP code) está longe de ser um indicador definitivo para se determinar o padrão econômico de uma pessoa. E Hudson não chegou a conduzir entrevistas para aprofundar os diagnósticos dos pacientes.

David Duncan, um epidemiologista especializado em saúde mental que vive no Estado do Kentucky, observou outra possível falha no estudo --quando ocorre a tendência de decadência social entre doentes mentais, acredita-se que isso aconteça antes mesmo da primeira internação deles.

Dessa forma, um estudo que os observe somente após uma primeira hospitalização poderia ser tardio no que diz respeito à constatação dessa tendência de queda na escala social, acredita Duncan.
Foram utilizadas no estudo cinco poderosos instrumentos estatísticos para testar cinco hipóteses sobre a conexão entre doença mental e pobreza, incluindo essa idéia de “tendência à decadência”.
A teoria de que condições econômicas estressantes podem causar a doença mental foi a única que realmente se encaixou com as informações levantadas, escreveu o pesquisador Hudson na nova edição da Revista Americana de Ortopsiquiatria, publicada pela Associação Americana de Psicologia.

Essa conclusão não surpreendeu Deborah Belle, professora de psicologia na Universidade de Boston, que estuda o estresse causado pela pobreza.“Existem várias conexões causais plausíveis entre a pobreza e as doenças mentais, especialmente a depressão, que eu conheço bem”, segundo a psicóloga.

Algumas dessas conexões: pessoas mais pobres estão mais sujeitas a encarar situações de vida mais ameaçadoras, mais humilhantes e sem saída aparente, segundo Deborah Belle. A pobreza pode minar a auto-imagem e as co-nexões sociais dessas pessoas, e deixá-las com uma sensação de falta de controle sobre a maior parte dos aspectos básicos de suas vidas.

Hudson diz que suas conclusões estão de acordo com experiências que ele mesmo viveu como organizador comunitário e assistente social, tanto entre os que vivem de maneira pobre e indigna em Chicago, como também em duas reservas indígenas. Essas circunstâncias, segundo Hudson, eram como autênticas “camisas-de-força, especialmente moldadas para induzir à pane mental”.

Desde que foi realizado um estudo seminal na Chicago dos anos 30, pesquisadores têm re-gistrado a tendência que indica pobreza e doença mental caminhando lado a lado.