Petrobras terá tratamento especial, diz ministro boliviano

Por Gazeta Admininstrator

O ministro de Hidrocarbonetos da Bolívia, Andrés Solis Rada, recém-empossado, disse que a Petrobras receberá tratamento especial do governo do país.
“A Petrobras é um caso absolutamente especial para a Bolívia”, afirmou à BBC Brasil.

“Com a Petrobras temos uma relação muito diferente da que existe hoje com outras empresas.”

Solis Rada falou logo depois de ter sido empossado, ao lado de outros 15 ministros do governo do presidente Evo Morales, entre eles intelectuais de esquerda, quatro mulheres, mineiros, indígenas e um empresário, no salão principal do Palácio presidencial, no centro de La Paz.

“Não podemos cair no erro de tratar igualmente a todas as empresas. Por mim, a partir de agora, cada empresa conversará diretamente com o governo e não mais através da Câmara Nacional de Hidrocarbonetos”, disse.

Novos acordos

Ele informou que serão assinados novos acordos com a Petrobras, resultado das conversas entre os presidentes Lula e Evo Morales, recentemente, em Brasília.

“A partir destas bases (do que foi conversado em Brasília), vamos discutir políticas especiais com a Petrobras”, disse. A Petrobras investiu cerca de US$ 1,5 bilhão no país, numa sociedade, na qual é majoritária, com as empresas Repsol e Total.

Uma das alternativas estudadas seria a maior parceria entre a empresa brasileira e a YPFB, a estatal boliviana do setor.

A Bolívia é dona da segunda maior reserva de gás da região, mas, de acordo com o novo ministro, é preciso fazer um levantamento das suas reservas, da quantidade de gás e de eletricidade consumida pelos bolivianos, para, então, estabelecer uma “política energética nacional, o que jamais foi feito”.

Quando perguntado se o novo governo boliviano poderia mudar o preço do gás que hoje é fornecido ao Brasil e à Argentina, ele respondeu: “Sobre isso, vamos negociar”.

O Brasil e a Argentina são os principais compradores do gás boliviano. Pouco antes das declarações do ministro, em meio ao tumulto e comemorações de indígenas e das novas autoridades no salão do Palácio presidencial, o ministro de Desenvolvimento Sustentável, Carlos Villegas, antecipou que a lei de hidrocarbonetos será modificada, já que agora o MAS (Movimento para o Socialismo), partido de Evo Morales, tem maioria no Congresso Nacional.

Indagado sobre o que significa “nacionalização dos recursos naturais”, como Evo reiterou no seu discurso de posse, ele explicou: “Significa que através dos novos contratos que assinaremos, vamos recuperar a propriedade dos hidrocarbonetos. Assim, o Estado boliviano vai exercer o direito de propriedade no solo e no subsolo”.

Ele disse que as empresas terão que aceitar as novas regras e “se submeter” à política e estratégia do setor.

Ministros

As novas pastas do governo boliviano incluem, além de Hidrocarbonetos e Desenvolvimento sustentável, os ministérios da Água e de Obras Públicas, entre outros.

“A água é nosso bem mais precioso e temos que cuidá-la”, disse o ministro do ramo, o indígena Abel Mamani. Ele foi levantado nos braços e deixou o salão carregado por seguidores que gritavam seu nome e lhe jogavam confetes azuis.

O ministro de Obras, o empresário Salvador Rivera, que chegou do departamento (estado) de Santa Cruz de La Sierra, marcado como opositor, foi mais cauteloso.

“Sou empresário, mas sou de esquerda”, avisou, antes de qualquer critica. “Queremos fazer uma administração voltada para a produtividade porque só assim vamos gerar empregos.”

O ministro das Relações Exteriores e Culto, David Choquehuanca, disse à BBC Brasil que a Bolívia vai trabalhar pelo fortalecimento da CAN (Comunidade Andina de Nações) e para aliar-se, “mais fortemente”, ao Mercosul.

“Temos que trabalhar para evitar os acordos bilaterais de comércio e atuar juntos em todas as negociações”, afirmou à BBC Brasil. Na hora de empossar seus ministros, Morales pediu que cada um jurasse, de acordo com sua religião. Alguns apoiaram-se na bíblia e outros levaram as mãos ao coração ou para o alto.

Em seu discurso, o presidente, vestido de suéter, disse que seu governo será o do "não à corrupção" e "não à burocracia".