Picaretas e Simpatizantes

Por Gazeta Admininstrator

Conviver com golpistas não é privilégio apenas da comunidade brasileira. Todo mundo sabe disso e já vai longe o tempo em que existia, dentro da própria comunidade brasileira uma incômoda sensação de que nós teríamos em nosso meio mais oportunistas (no mau sentido) do que em outras comunidades.

Hoje sabemos que o fenômeno “Picaretício” é amplo, geral e irrestrito. Tem ondas, altas e baixas, vai e vem. Nunca se ausenta por completo. Como um “Câncer” que depende de combate incansável, ele se mantêm em níveis baixos, mas pode, vez por outra, aproveitando um “relaxamento” do paciente, voltar a crescer e se tornar perigoso.

Nas últimas semanas tem se ouvido falar e convivido na comunidade brasileira do Sul da Flórida de uma série de ocorrências que remetem a uma nova “onda de atividades picaretícias”.
Empresas que não cumprem a Lei, que não respeitam os direitos do consumidor. Empresários inescrupulosos que não hesitam em fraudar, mentir, espoliar e roubar, lesando a boa fé de quem confia em seus serviços e produtos oferecidos.

Pior: empresários que, usando os veículos da mídia brasileira para estabelecer sua “plataforma”, se beneficiam da credibilidade e histórico desses veículos para facilitar sua ação criminosa e predatória.
Esses golpes têm vindo das mais distintas direções. Dos mais variados segmentos. Estão aí nas manchetes e reportagens de nossos jornais e revistas. E nos obriga a alertar a população brasileira do Sul da Flórida a ser cada vez mais criteriosa, cautelosa e investigativa.

Admito que é inútil imaginar que as pessoas vão, no estresse do dia-a-dia, se lembrar de que a empresa “A” anda envolvida em escândalos e a “B” andou vendendo produtos com data vencida. Ou que a “C” anuncia algo que nunca cumpriu ou cumprirá. Mas um mínimo de bom senso deve sempre prevalecer, porque afinal de contas essa é a regra do jogo. É cada um de nós que tem que exercer o papel de defesa de nossos próprios interesses.
Recebí um e-mail na semana passada onde a leitora Ana Luiza, de Pompano, reclamava de que a imprensa brasileira anunciava empresas picaretas e dava “cobertura” inocente a golpistas e criminosos dentro da comunidade.

Esse e-mail me fez pensar mais sobre esse tema.
Como é que um órgão de imprensa pode detectar se a empresa “A” ou “B” está lesando a comunidade se essas empresas não forem denunciadas?
A história mostra que toda vez que floresce um “golpe” dentro de nossa comunidade e esta ação criminosa é denunciada, a imprensa brasileira corre atrás, expõe os fatos e quase sempre (pelo menos falo do que sei, é a política editorial do Gazeta) dá oportunidade a que “ambas as partes” se manifestem e apresentem à comunidade as suas versões do fato.

Mas há que se reconhecer que 99% dos golpes e picaretagens não são sequer denunciados. E por que?
Seria porque nós, brasileiros, há tantos anos convivemos com a picaretagem institucional e alastrada em que se transformou o nosso amado país, estaríamos já convivendo com o “câncer da incredulidade” ?

Seria porque nós, brasileiros, acostumados à impunidade, não acreditamos nunca que “valha a pena” denunciar todas as atividades e todos os indivíduos que atuam para lesar os consumidores?
Mais ainda, e pior. Seria porque prevalece ainda em grandes partes de nossa comunidade um sentido de que no “vale tudo” da sobrevivência na América, trata-se apenas de saber, cada um por sí? Não há nenhum interesse ou responsabilidade coletiva em informar e denunciar para que o mesmo mal não atinja outras pessoas?
São questionamentos importantes. Reconheço que não é fácil conscientizar a comunidade sobre a importância crucial em denunciar quem está usando e abusando da comunidade.

Especialmente àqueles que exploram de forma vil e escandalosa a boa fé de brasileiros mais recentemente chegados e que ainda lutam com muita dificuldade com o inglês e com o “american way of life”.
Esses brasileiros recém-chegados são as vítimas mais indefesas e preferenciais das empresas e empresários inescrupulosos.
A lista é longa de advogados de imigração, empresas de remessa de dinheiro, transportadoras, lojas de produtos brasileiros e variados tipos de negócios focados na comunidade e que são amplamente utilizados pelos imigrantes mais recentes, que já estão há muito tempo na “lista negra” por denúncias de exploração e não cumprimento das leis dos Estados Unidos quanto aos direitos do consumidor. Quando não estelionato e fraude.

Cabe a você, leitor do Gazeta e de todos os demais veículos de comunicação brasileiros, denunciar MESMO! Denúncia fundamentada, com provas materiais ou testemunhas, para que se possa publicar, investigar e cobrar ação das autoridades policiais.
Da mesma forma que qualquer empresa ou empresário que se sinta vítima de uma denúncia falsa – que também existem e não são poucas – deve procurar a imprensa para se defender e esclarecer à população a verdade dos fatos.

Em ambos os casos, o silêncio ou a indiferença diante do golpismo só favorece os próprios golpistas. Quem cala, consente.