Pintando as ondas perfeitas

Por Gazeta News

3 Mural 04101 - Hilton Alves

As ondas da Pipeline, no Havaí, inspiram não somente surfistas e turistas, mas foram elas que motivaram o santista Hilton Alves, de 35 anos, a pintar o maior mural de onda do mundo, em Honolulu. A arte do brasileiro teve tanta repercussão, que ele iniciou um projeto, em 2013, de pintar 101 murais de ondas perfeitas por todo o mundo. Ele já pintou em algumas cidades, incluindo São Paulo, e um dos projetos futuros em negociação é pintar um mural em Fort Lauderdale, em parceria com o time de futebol Strikers.

A base de Hilton é Oahu, onde é casado com uma havaiana, com quem tem um filho de 1 ano, mas sua arte deverá estampar muros ao redor do mundo, onde o seu reconhecimento está cada vez maior. Hilton já pintava no Brasil, mas disse ao GAZETA que desde que se mudou para o Havaí teve a oportunidade de evoluir como artista, participar de grandes festivais, além da facilidade de acesso ao material.

Confira entrevista do GAZETA com Hilton:

Gazeta Brazilian News - O que o motivou a ir para o Havaí? Hilton Alves - Vim para Oahu em agosto de 2007, com 27 anos. Meu objetivo era competir no Dukes Ocean Fest, na categoria SUP race. Depois disso acabei ficando e desenvolvendo vários projetos de arte desde então.

Gazeta - Conte um pouco de sua história no Brasil. Hilton - Nasci em Santos em 1980 e com dez anos fui morar no Guarujá com meu pai e meu irmão Wallace. Lá aprendi a surfar e fazer outros esportes. Em 2000, com 20 anos, pintei meu primeiro quadro e coloquei ele numa loja de surfe que trabalhava. A arte chamou a atenção de todos os clientes, que começaram a fazer encomendas. Com isso, percebi que, além de me divertir, ganhava mais que trabalhando em loja de surfe. Aí decidi seguir meu caminho sozinho e me dei dez anos como artista… Até hoje não parei. Tudo que tenho, atualmente, veio por intermédio da arte… Até mesmo está entrevista! Em agosto de 2007, vim para Oahu como atleta e depois das competições eu pintei um mural numa escola do North Shore. Percebi que a comunidade havaiana curtiu e decidi pintar mais escolas.

Gazeta - Como aprendeu a pintar murais? Hilton - Meu primeiro mural foi feito na praia do Tombo, no Guarujá. Eu tive a ajuda de outro artista/mentor, chamado Paulo Santoro. Ele me instruiu no início, me ensinando algumas técnicas de airbrush e depois eu quis explorar um lado mais amplo dos murais, misturando isso com preservação ambiental e crianças.

[caption id="attachment_87024" align="alignright" width="300"] Hilton presenteou Gabriel Medina com um quadro de Maresias quando ele venceu o campeonato mundial no Havaí, no ano passado.[/caption]

Gazeta – O que te inspira a pintar? Hilton - Eu adoro ondas gigantes, isso mexe com minha imaginação como artista, mas a mais bela de todas é com certeza a Pipeline. Toda referência de beleza, cores e luzes eu encontro nesta onda.

Gazeta – Fale do projeto de pintar 101 murais de ondas perfeitas (101 Perfect Waves – International Mural Project). Hilton - O projeto foi criado em outubro de 2013, onde eu iniciei pintando a ‘maior mural de onda do mundo’, em Honolulu. Este mural foi feito em quatro dias e são cinco andares de altura por 200m de extensão, baseado na onda de Pipeline. No último dia, tivemos um link ao vivo na TV local comigo assinando o mural e celebrando com a galera.

Tivemos que arrecadar $12 mil dólares para pintá-lo, já que a logística era grande. Desde o guindaste de 65 pés a 150 galões de tintas que foram usados. Este mural foi uma doação para Honolulu. Todo o dinheiro foi usado para o projeto e as pessoas envolvidas foram todas voluntárias, inclusive eu.

O segundo mural, no Parque do Ibirapuera (São Paulo) foi em parceria com a revista Alma Surf e a prefeitura. Este mural foi inaugurado no aniversário de 460 anos da cidade de São Paulo, em frente a um público de 3 milhões de pessoas que passavam pelo parque. O terceiro, foi em Wailuku, Maui, e o quarto em Haleiwa, Oahu.

Para este ano, eu tenho propostas de murais em Barcelona e Santander, na Espanha, e um em Singapura, para novembro, já confirmado. Tenho uma proposta também para Fort Lauderdale, em parceria com o Strikers. Este projeto agora conta com o apoio das empresas Titan Tool (de Minnesota), que fornece equipamentos de pintura como compressores, pistolas, sprayers, etc. Jams World, que fornece roupas no geral e Bomber Eyewear, que fornece óculos protetores para o artista e sua equipe.

Meu objetivo com o projeto é pintar o maior mural do mundo já feito por um artista, para registro no Guinness Book e também levar este tipo de arte às pessoas que não têm muito acesso ao mar.

Gazeta - Conte um pouco do projeto social que você criou, Surf Art Kids? Hilton - O projeto foi criado em 2003 e se chama Surf Art Kids. Este é um projeto social voltado às crianças no geral. É um trabalho voluntário que faço. Como eu aprendi a pintar sozinho e acredito que este é um dom que Deus me deu, eu devolvo isso ensinando a molecada gratuitamente, seja em escolas, eventos, etc.

No Brasil, o projeto passou por várias cidades, inclusive em parceria com grandes empresas. Em 2007, eu iniciei um tour pelas escolas do Havaí e desde então são mais de 8 mil crianças envolvidas e 14 murais feitos nas escolas de Oahu. O slogan do projeto é ‘colorindo um novo futuro’ e o que eu quero é que a molecada se identifique com a arte de alguma forma que possa ajudar a criar um planeta melhor.