Plano Obama 2011: uma tentativa na direção certa ou apenas “olho na urna”? - Editorial

Por Carlos Borges

O Presidente Barack Obama apresentou esta semana um novo plano de estímulo à economia norte-americano, segundo ele, destinado a impulsionar a criação de empregos e tirar a economia do estado de estagnação. Ante uma persistente taxa de desemprego de 9,1 % e a constatação de que, após sinais de recuperação em 2010, a economia norte-americana não consegue se mover positivamente, o presidente apresentou um novo “pacote” que combina redução de impostos, obras de infraestrutura e apoio financeiro a estados e prefeituras, perfazendo um total de 300 bilhões de dólares.

O apelo do presidente foi no sentido de que Republicanos (maioria na Câmara) e Democratas (maioria no Senado), trabalhem em conjunto para recolocar a economia yankee nos trilhos e, como consequência, “aliviar” uma economia mundial que parece estar tão atrelada quanto sempre, ao que de bom ou ruim ocorra nos Estados Unidos.

Quase metade desse “investimento” vai se materializar em cortes nos impostos e taxas das folhas de pagamento das empresas. A contribuicão das empresas para o Social Security cairá de 6,2% para 4,2%. Uma queda de 30%.

Outros 50 bilhões se destinam ao seguro desemprego. 30 bilhões em reformas de escolas e outros tantos bilhões em obras em rodovias, ajuda aos estados no pagamento de professores e unidades de atendimento de emergência, como bombeiros, paramédicos, etc.

Os analistas em Washington acham que a probabilidade de aprovação desse plano na Câmara de Representantes, dominada por republicanos e mais “politizada” do que nunca, é muito pequena. O próprio Obama parece ter reconhecido isso em seu discurso (divulgado antecipadamente para a imprensa), ao enfatizar sobre a necessidade de uma união “supra-partidária” para aprovar o plano que ele considera como “de interesse de todo o país”.

Mas será mesmo que Obama está, há 14 meses das eleições presidenciais, realmente pensando unicamente no que é “bom para o país” ou se concentra, de fato, em construir uma plataforma que regenere seus índices de aprovação e melhorem suas chances de reeleição?

Difícil responder.

Até porque, Obama já superou todas as desconfianças de seus detratores e é um presidente querido e respeitado pelos norte-americanos. Mas seus índices de aprovação como condutor da economia, são muito ruins. Apenas 18% dos americanos aprovam seu trabalho nessa área, em contraste com os 63% que o consideram “um presidente digno dos americanos”.

Economia, empregos e crescimento, nada tem a ver com a admiração que, eventualmente, os eleitores tenham pelo primeiro presidente negro do país mais rico e poderoso do planeta. Dizem que “o que consagra ou destrói uma presidência é a performance da economia e do mercado de trabalho”. De fato, raros foram os presidentes (e Ronald Reagan foi um deles) que conseguiram desafiar essa “lei’ e se reelegeram mesmo com uma economia recessiva e alto índice de desemprego.

Obama parece mais do que nunca um competidor em busca de plataformas de reeleição do que aquele jovem visionário que imaginava “mudar’ a face de uma América com a autoestima arranhada pelos turbulentos e arrogantes anos sob o comando de George W. Bush.

Com essa “desmistificação”, Obama vem perdendo gradual e continuamente o apoio que tem dos independentes, uma força poderosa e determinante em sua eleição histórica, em 2009.

Também com sua relutância em assumir as promessas de campanha, especialmente com relação aos imigrantes e às minorias, vem alienando mais e mais o voto latino, outra força poderosa em sua eleição.

O plano Obama de agora me parece mais um casuísmo nesse rumo do que propriamente um “degrau” rumo à reativação da economia e florescimento dos empregos.

Tomara que estejamos errados.