As pessoas de origem latina e seus descendentes formam uma parcela crescente do eleitorado dos Estados Unidos e, especialmente em alguns Estados, podem ser a diferença na hora de carimbar o passaporte para a Casa Branca.
Segundo o instituto de pesquisas Centro Hispânico Pew, os hispânicos são, hoje, 15% da população dos Estados Unidos e 9% do eleitorado americano, ou cerca de 8,6 milhões - um milhão a mais do que o registrado em 2004.
Há algum tempo atrás, a maioria dos políticos, incluindo o próprio presidente George W. Bush, tentava arranhar até umas palavrinhas no idioma de Cervantes para mostrar seu interesse pela comunidade latina.
Esta eleição, a coisa parece ter mudado um pouco - mas embora a maioria dos candidatos esteja preferindo usar apenas o inglês, eles não estão evitando o tema que tradicionalmente mais interessa a esse eleitorado, a questão da imigração.
Nos últimos dois anos, hispânicos foram às ruas nas principais cidades do país em inúmeras passeatas para pedir a reforma das leis de imigração.
Mas uma proposta com o respaldo de George W. Bush acabou não sendo aprovada pelo Congresso, e uma possível nova tentativa de reforma deve ser um dos maiores desafios do próximo presidente.
Debate “em espanhol”
A rede de TV hispânica Univisión promoveu em setembro e dezembro debates num formato nunca antes visto na televisão americana - os candidatos respondiam a perguntas feitas em espanhol, traduzidas a eles simultaneamente em inglês.
Como era esperado, o tema mais abordado foi imigração. No debate democrata, em setembro, os candidatos evitaram condenar abertamente o muro que está sendo construído na fronteira dos Estados Unidos com o México para controlar o fluxo de ilegais, optando por dizer que é preciso ampliar a segurança nas fronteiras.
Apenas Richardson - filho de mãe mexi-cana e o único pré-candidato hispânico - e o deputado Dennis Kucinich manifestaram sua oposição aberta à barreira.
“Se você construir um muro de 12 pés (cerca de 3,66 m), o que vai acontecer é que haverá mais escadas de 13 pés (3,96 m)”, disse Richardson.
Os republicanos em geral defendem o reforço do policiamento nas fronteiras, mas os candidatos mostram visões bastante diferentes de como lidar com os ilegais que já estão no país.
Uns, como Rudolph Giuliani, defendem a emissão de documentos de identidade para esses imigrantes. Outros, querem adotar uma linha mais dura contra eles - como é o caso de Tom Tancredo, que foi o único a boicotar o debate republicano na Univisión, em dezembro.
Alinhamento político
Tradicionalmente, os hispânicos ameri-canos estão associados aos democratas. Mas, assim como a própria comunidade não é homogênea (por incluir pessoas de dezenas de países, com diferentes rendas e vivendo em partes diferentes do país, com interesses diversos), o seu alinhamento político também não é homogêneo.
Na Flórida, por exemplo, a influente comunidade cubana é fortemente alinhada com o Partido Republicano, por causa do posicionamento dos republicanos a favor de sanções econômicas contra Fidel Castro.
Certos candidatos republicanos também mostram um forte apelo aos latinos. George W. Bush, por exemplo, foi eleito em 2004 com 44% dos votos hispânicos.
Uma outra pesquisa do Centro Hispânico Pew indica que 57% dos eleitores latinos se consideram democratas, contra 23% que se declararam republicanos.
“Os democratas têm constantemente participado de fóruns de discussão, identificando suas idéias para a comunidade latina”, disse o senador hispânico democrata Robert Menendez na conferência do Instituto do Caucus Hispânico do Congresso (CHCI), em outubro. “Os republicanos têm ficado completamente ausentes.”
Hessy Fernandez, porta-voz do Comitê Nacional Republicano, nega a acusação.Segundo ela, os candidatos republicanos “a cada dia, em cada uma de nossas campanhas, estão se aproximando da comunidade latina”.
Ainda assim, John McCain, um dos autores da proposta de reforma de imigração rejeitada pelo Congresso, reconheceu que a postura de alguns membros do Partido em relação ao tema da imigração aliena eleitores latinos.
“Swing states”
A maior importância da comunidade hispânica americana se dá em alguns dos chamados Swing States - os Estados que não estão tradicionalmente associados a nenhum partido em especial e que geralmente são os maiores campos de batalha nas eleições presidenciais.
O caso da Flórida é emblemático: o Estado que garantiu a Presidência a George W. Bush em 2004 tem 14% dos seus eleitores de origem latina.
Em outros três Estados com grande peso dos hispânicos, além da Flórida, Bush venceu as eleições de 2004 com uma margem de menos de cinco pontos percentuais: Novo México (onde 37% dos eleitores são latinos), Nevada (12%) e Colorado (12%).
Mas nem todos, mesmo dentro da própria comunidade, acreditam que o voto dos hispânicos pode ter tanto peso a ponto de decidir qual será o próximo ocupante da Casa Branca.
Eduardo Gamarra, ex-diretor do Centro de Estudos Latino-Americanos da Universidade Internacional da Flórida, é um deles.
“O voto hispânico é importante? Sim. É determinante? Provavelmente. Já atingiu seu potencial? Ainda não. Eu acredito que estamos a dois ciclos eleitorais do momento em que o peso hispânico seja verdadeiramente importante.”

