O poder das palavras e das mudanças - Editorial

Por Marisa Arruda Barbosa

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Duas questões esta semana chamam a atenção e valem a pena ser discutidas aqui. Uma delas é em relação ao poder que palavras podem ter, como no caso do acidente de moto sofrido pelo brasileiro Kleber Peres.

Familiares e amigos que testemunharam o acidente que levou a vida do tocantinense afirmam que o acidente não foi como retratado pelo jornal local “Sun Sentinel”, que usando relatório da polícia, sugeria que a culpa foi de Kleber. Amigos contataram os jornais contando como foi o acidente, que ainda está sendo investigados. Embora isso não vá trazer Kleber de volta, palavras como essas, que o culpam pelo acidente, acabam aumentando a dor dos que ficaram, disse sua noiva Viviane, que também estava no acidente, mas sofreu poucos ferimentos.

Isso traz à tona algo que o imigrante vive nos EUA ao ser retratado pela mídia local americana. Muitas matérias acabam na frieza de relatórios policiais, pois não encontram ou não procuram pessoas relacionadas com o caso para ilustrarem ou mostrarem a outra versão dos acontecimentos.

Ao repetir o mesmo erro, a mídia comunitária corre o risco de não cumprir seu papel de servir o brasileiro que vive nos Estados Unidos. Temos, sim, que mostrar, em português, o que acontece local, estadual e nacionalmente, mas dando especial ênfase e investigando os fatos principais relacionados a brasileiros, já que jornais locais não têm essa preocupação, deixando muitas vezes a desejar.

Em relação ao poder das mudanças, nos referimos à derrubada do DOMA (Defense of Marriage Act) pela Suprema Corte, uma lei que somente reconhecia o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Com tantas mudanças acontecendo, como a legalidade do casamento gay e uma possível reforma imigratória, os EUA não poderiam ter mais uma lei federal discriminatória que não acompanha a legalidade.

Isso indica que mesmo que senadores envolvidos com a reforma imigratória tenham tido que deixar de lado uma emenda que estenderia a casais gays o benefício do pedido de residência para um dos cônjuges que não seja cidadão americano, uma alternativa, esta vinda da Suprema Corte, poderia estender vários benefícios federais, inclusive de imigração a esses casais. A decisão começa a ser estudada por advogados e interessados agora, pois poderá exercer um papel inevitável indiretamente entre imigrantes homossexuais, sem que isso venha do projeto de reforma imigratória.

Tudo indica que vivemos um momento em que as mudanças finalmente têm mais força que a oposição conservadora. A reforma caminha para aprovação final no Senado, com emendas que atraíram até o apoio da governadora republicana do Arizona, Jan Brewer, a mais conservadora em relação à política de imigração do governo Obama, e casais gays que vivem em um limbo jurídico começam a ver a luz no fim do túnel. Com isso, imaginamos que muitas pessoas que têm suas vidas em espera por causa de uma decisão superior poderão voltar a caminhar. Com essa nova movimentação, todos, inclusive a economia, só têm a ganhar.