Polêmica em Deerfield

Por Gazeta Admininstrator

Nos últimos dias, várias lideranças da comunidade brasileira no Sul da Flórida têm sido conclamadas a demonstrarem repúdio contra tudo e todos que não manifestaram seu apoio irrestrito à candidatura do empresário Jimmy Albuquerque a uma vaga de Commissioner da cidade de Deerfield Beach. Vários e-mails foram enviados à nossa redação, reclamando da falta de apoio ao candidato brasileiro. A causa de tanta reafirmação em cima do nome de um brasileiro, talvez seja porque a entidade Brazilian American Coalition, de Deerfield Beach, está apoiando a candidata americana Donna Capobianco.

Mas, há algo nesse descontentamento dos apoiadores do candidato Jimmy com o qual eu, particularmente, não concordo.

Vivemos num país democrático, de verdade, e a ideia de “apoio irrestrito ou automático” a quem quer que seja, me parece muito mais coisa de torcida de futebol e Fórmula 1 do que algo que se possa aplicar na complexa arena dos interesses políticos e dos compromissos administrativos.

O brasileiro se considera um recebedor natural do apoio de todos os brasileiros. Entendo que esse seja um sentimento natural, já que há muito tempo a comunidade brasileira do Sul da Flórida almeja uma representação política condizente com nossa presença econômica, social e cultural.

Acho mesmo que a candidatura de um brasileiro deveria contar com maciço apoio da comunidade e tenho certeza que assim seria. Mas para isso, e antes disso, é preciso que esse candidato brasileiro – seja Jimmy ou tantos outros que já tentaram a mesma postulação – venha a público,
apresente suas propostas e estabeleça seus compromissos.

Pergunto ao leitor: Se a plataforma do candidato brasileiro for aquela que identifique-se com os anseios da comunidade, há alguma dúvida de que esse apoio virá?

Mas, por outro lado, se a plataforma dos candidatos oponentes, sejam brasileiros ou não, puder atender melhor aos anseios da comunidade, deveríamos deixar de apoiar esses candidatos e preferir o candidato brasileiro, só porque ele é brasileiro?

É preciso analisar a história desses candidatos, seu passado e sua atuação na comunidade.

É mais do que necessário um debate de ideias e propostas de cada candidato – independentemente de sua nacionalidade – para que as lideranças da comunidade brasileira possam se manifestar a favor de A, B ou de forma neutra.

Lembro-me que já existe uma experiência interessante e semelhante envolvendo cargos de comissioner em regiões de expressiva população brasileira.

Em Newark, New Jersey, onde vivem mais de 150 mil brasileiros e onde está a terceira maior presença brasileira no País, já foram tentadas alternativas de lançar um candidato brasileiro. Alguns até se lançaram, porém, todas as candidaturas naufragaram justamente porque os candidatos brasileiros que se apresentaram, se apoiavam unicamente no fato de serem brasileiros, sem oferecer uma plataforma de propostas.

Nesse vazio de ideias e de conquista do real interesse e apoio da comunidade, candidatos portugueses (que nem precisam dos ainda poucos votos dos brasileiros cidadãos) é que acolheram essa representativa e, de forma limitada, atendem aqui e ali nossos interesses.

Evidentemente, queremos um brasileiro assumindo esse posto. Mas, não apenas por ser brasileiro, e sim por ser alguém qualificado para o cargo e legitimamente comprometido com os interesses da comunidade.

Senão, seria o mesmo que a comunidade negra ter votado em Obama não porque ele era o melhor e mais qualificado candidato e sim por ser apenas negro.
Fosse ele um incompetente, com passado sujo e oportunista tentando apenas um cargo público e fama, e estaríamos todos em maus lençóis. Pior: se por ser “branco”, John McCain devesse receber o apoio da maioria de brancos dos Estados Unidos, Obama jamais teria sido eleito. Cor, raça, orientação religiosa, prefe-rência sexual ou nacionalidade estão, felizmente, deixando de ser pré-requisito para o que quer que seja.

Admito, entretanto, que um candidato brasileiro, provavelmente, saberia – ou, pelo menos, teria o compromisso moral – de defender mais e melhor as causas da comunidade. Mas, esse apoio tem que ser conquistado com debates, apresentação de ideias, uso de todos os recursos de mídia, para realmente motivar a comunidade a acreditar, e assumir seu projeto.