O carioca Marcos Silva, de 34 anos, já vivia nos Estados Unidos há dois anos quando os ataques terroristas de 11 de setembro mudaram sua vida. O programador de computadores resolveu ingressar no exército americano e passou 14 meses no Iraque. Hoje, ele é detetive no departamento de Polícia de St. Louis, Missouri.
Temperatura alta, clima seco, água quente para beber e trabalho em média de 12 horas por dia são alguns dos fatores que fazem Marcos afirmar que prefere a vida de policial. “Hoje em dia, minha vida é dividida entra a minha carreira policial e família”, conta ele, que é casado com uma americana de Nebraska, Lindsey, com quem tem um filho de três anos, Tyler.
Na entrevista abaixo, Marcos conta um pouco como foi sua experiência no Iraque e no Exército americano.
GAZETA - Quanto tempo e onde você ficou no Iraque?
Marcos Silva –
Fiquei 14 meses ao todo no Iraque, na operação “Iraq Freedom”. O meu maior tempo de ‘deployment’ foi na área sul do Iraque, em Tallil. Mas estive em Bagdá (no Camp Victory) e também na parte Norte do país. Alguns detalhes da nossa operação ainda são classificados como confidenciais, então não posso comentar, mas estive em várias partes do país.
GAZETA - Pode contar um pouco como era sua rotina no exército?
MS -
A experiência no Iraque foi uma parte da minha vida que não foi boa. No Kuwait foi bem melhor. A temperatura era muito alta, o clima seco, bebendo água quente, indo a missões todo o tempo. Você fica frustrado. Não há muito tempo para o descanso e para falar com a família. A média era de 12 horas de trabalho por dia. Não existe isso de “final de semana de folga” ou “days off”. Na guerra, você não tem vida pessoal por todo o tempo que você está lá. O medo é uma parte humana, o corpo reage de acordo com o meio ambiente e sem você perceber. Eu acredito que isso é um instinto humano. Não há nada de errado em sentir medo e, às vezes, você nem percebe que tem. Você fica muito mais alerta ao perigo em áreas de confronto. O treinamento que você recebe é longo e intenso, mas a realidade bate de frente com você quando está em um comboio no meio do Iraque, em uma zona de guerra.
GAZETA - Você conheceu outros brasileiros no exército?
MS -
Não... Durante todo o meu tempo de exército, mesmo nos EUA, Kuwait e Iraque, nunca conheci nenhum brasileiro. Até tentei procurar pela internet, mas o meu trabalho me deixava pouco tempo livre, e quando eu podia, falava com minha família.GAZETA - Por que você resolveu sair do exército?
MS -
A vida militar tem muitas vantagens e desvantagens. Creio que isso acontece em qualquer unidade de forças armadas de qualquer país. Gostei muito do trabalho que fiz no Exército dos EUA e fui muito bem reconhecido. Mas a vida militar não é para todos e, por isso, resolvi sair. Na época, eu morava na Base Militar de Fort Leonard Wood e tomei conhecimento do Departamento de Polícia de Saint Louis, em Missouri. Fui aceito e entrei para a Academia de Polícia de Saint Louis no mesmo ano. Tive que fazer uma escolha entre a carreira de Oficial do Exército que me foi oferecida ou a carreira policial. Depois de alguns dias, decidi que eu já tinha a experiência militar e não era uma opção muito viável ficar me mudando a cada dois anos. Por isso, escolhi a carreira policial. Após a graduação na Academia, continuei trabalhando nas ruas de Saint Louis como policial. Passei ao cargo de detetive e há um ano e meio fui transferido para a Divisão de Inteligência do Departamento, como detetive, onde estou até hoje.GAZETA - Como compara a vida no Exército e na polícia? Qual você prefere?
MS -
Não há como comparar a responsabilidade entre um soldado de exército e de um detetive de polícia. São cargos muito diferentes. Eu adoro o que faço hoje, as horas de trabalho são muito melhores. Para responder a sua pergunta, eu prefiro ser policial.GAZETA - Sua esposa também trabalha na mesma área que você?
MS -
Minha esposa, Lindsey, foi policial na mesma cidade que estou. Ela entrou para o departamento dois anos depois de mim, mas depois que nosso filho nasceu, ela ficou em casa.GAZETA – Planos para o futuro?
MS –
Quero me aposentar pela polícia aqui com mais 12 anos de serviço e depois gostaria de ir para o Brasil passar umas longas férias. Mas como meu filho e minha esposa são daqui, agora tenho que dividir meu amor e meu tempo entre os dois países.