Por que não engravido? - Pais & Filhos

Por Adriana Tanese Nogueira

Engravidar parece tão simples, não? Tantas gravidezes acontecem todos os dias, a maioria delas, digamo-lo, não planejadas e sequer desejadas. Nascem crianças a toda hora no mundo, sobretudo nos países mais pobres, onde ter filho deveria ser um luxo para poucos... As crianças parecem brotar como grama no campo, sem pedir licença e sem se fazer esperar.

Mas seu filho não vem. Seu tão desejado filho não chega. Por quê? O que você tem de errado? Ou o seu marido? Você fez todos os exames médicos e nada de descobrir a razão desse mistério: parece que você está proibida de ter filhos, há alguma maldição pesando em você, ou talvez não mereça ou... Mil e uma razões que levam a insistir ou se desesperar e insistir ainda com mais veemência para ver se na marra se arranca um anjinho do céu e o se faz aterrizar em nosso ventre.

Minha proposta é outra. Vamos fazer de conta que somos um ser único, feito de matéria e espírito, corpo e alma? Vamos fazer de conta que nada na gente é isolado,  mas tudo interconectado? Vamos imaginar que não há defeitos nem mistérios, mas somente nossa ignorância e que esta é, digamo-lo, bem grande?

Se entrarmos nessa perspectiva que haveria de se chamar holística, não podemos encarar a concepção de que não acontece como um mero problema físico, mas como o resultado, o sintoma de um conjunto de fatores. E aqui entra a nossa gigantesca ignorância a respeito de nós mesmos, porque a primeira pergunta é: mas de quais fatores? Eu quero um filho! Se eu quero, e nem eu nem meu companheiro estamos impossibilitados a conceber, então tenho que engravidar! Este é o raciocínio básico. Simplório também. Comum. Mais fácil. Mas seu corpo a está contradizendo, não? Seu corpo está zoando de sua vontade e de seus raciocínios. Seu corpo desobedece.

Ou será que é mais que o seu corpo? O que estará atrás desse corpo rebelde? O que este corpo rebelde estará representando, atuando, materializando? Quais obstáculos? Quais desafios? Quais questões a serem resolvidas?

Cada mulher e cada casal têm sua história, seus caminhos e descaminhos internos, profundos, únicos. Cada um carrega como herança uma história de família e de alma que contém muito mais do que se pode imaginar. É preciso procurar nas histórias por trás da conversa materialista-mecanicista da fecundação. É preciso procurar em histórias além daquela de um óvulo arredio e de um espermatozóide fraco o porquê essas duas células aqui não se encontram. Que códigos estarão seguindo? Por quais conversa e entendimentos estarão sendo guiados? Quais vontades estarão ouvindo?

É por trás da camada física que é preciso buscar as respostas. Mas este é um caminho de alguma forma solitário, profundo, sobretudo desafiador. Há muitos e muitos pais que querem e têm filhos, mas não estão, na verdade, abertos para o terremoto que maternidade e paternidade representam para suas vidas anteriores. Querem e têm filhos, mas não querem que “incomodem” demais, que “atrapalhem” seus programas. Da mesma forma, há tentantes, mulheres e homens, que não estão dispostos a vasculhar nas profundezas por respostas que se encaixem em sua história de vida e psicológica. Preferem tentar usando os métodos tradicionais que não tocam o emocional, que não perturbam a visão das coisas e a identidade já estabelecida.

A cada um, seu caminho, a cada um, sua escolha. A liberdade existe para isso: para experimentarmos possibilidades diferentes. Mas, se após muitas tentantivas a gravidez não aparecer e o desânimo bater, lembre-se que não somos só feitos de carne. Aliás, o corpo físico é somente um espelho de outras dimensões que geralmente são mais fortes do que esse corpo feito de carne e, sobretudo, mais forte do que a vontade do ego. Abra-se ao autoconhecimento e enverede pelo novo caminho. Quem sabe?