Por que muitos atletas dedicados são também bons bebedores?

Por Gazeta News

Por Selene Yeager, da Women’s Health

Um estudo de 2009, da Universidade de Miami descobriu que quanto mais certas pessoas se exercitam, mais elas bebem, com as mulheres mais ativas consumindo maiores quantidades a cada mês. É um fenômeno peculiar que tem feito cientistas coçarem suas cabeças desde 1990, quando primeiras pesquisas identificaram uma conexão entre álcool e exercício físico. Isso mudou a ideia de que esperava-se que os maiores beberrões se exercitariam menos.

Em vez disso, uma análise de 2009, com mais de 230 mil homens e mulheres revelou que, em média, os consumidores de álcool de ambos os sexos e todas as idades (e não apenas jovens com vinte e poucos anos) eram 10% mais propensos a se envolver em exercícios vigorosos, como correr, por exemplo. Os que mais bebiam se exercitavam 10 minutos a mais a cada semana do que os bebedores moderados, e 20 minutos a mais do que os que não bebem.

“Há uma concepção errônea de que os bebedores pesados são avessos ao exercício”, explica o autor do estudo, Michael T. French, Ph.D., professor na área de saúde na Universidade de Miami. “Isso pode ser verdade em alguns casos, mas certamente não é o que descobrimos”.

Esta tendência parece particularmente pronunciada em mulheres, especialmente ativas, instruídas, que, de acordo com pesquisa recente da Universidade de Columbia, estão bebendo mais do que nunca. Em parte, o progresso pode ser a raiz do mal: com o crescente número de mulheres no local de trabalho e outras áreas dominadas por homens, tornou-se cada vez mais socialmente aceitável para as mulheres sairem para o bar ao lado de seus colegas do sexo masculino e exagerar.

Para queimar as calorias?

Uma simples teoria que cientistas apoiam é que as pessoas fazem mais exercício no dia seguinte do exagero para queimar as calorias. Neste caso, a garota festeira acorda com peso na consciência e decide compensar com exercícios mais pesados.

“As mulheres que consomem álcool poderiam simplesmente se exercitar mais para queimar calorias e evitar o ganho de peso”, diz French. “Da mesma forma, elas podem beber mais, simplesmente porque podem, pois sabem que vão queimar as calorias”.

Mas isso não explica totalmente o fenômeno. Cientistas estão traçando o comportamento como típico daquelas pessoas que têm a personalidade de “work hard, play hard” (trabalha duro e brinca com intensidade). “Há pessoas que são dependentes das sensações”, diz Ana M. Abrantes, Ph.D., professora assistente na Brown University. “Essas pessoas se envolvem com frequência em atividades que trazem sensações intensas e podem ficar rapidamente entediadas com as coisas que não produzem esses sentimentos”.

Para outros, pode ser uma questão de afastar o estresse. Pode ser por isso que algumas mulheres compensam sua tensão com uma aula de boot camp. “O exercício estimula a liberação de serotonina, um antidepressivo natural, a dopamina, que é o neurotransmissor principal no centro do seu cérebro que dá a sensação de recompensa. Faz-nos sentir bem”, diz o pesquisador de química cerebral, J. David Glass, Ph.D. , professor da Kent State University. O álcool tem um efeito semelhante, e pode ajudar a acalmar suas preocupações (mesmo que apenas temporariamente).

O princípio do prazer

A desvantagem de estar constantemente ativando esses mecanismos de recompensa é que o cérebro fica acostumado e fica pedindo mais, diz Brian R. Christie, Ph.D., diretor do programa de neurociências da University of British Columbia. Então não é chocante que alguém que anseie por uma sessão de CrossFit também irá prontamente tomar umas doses de vodka com soda.

Estudos em animais confirmam este efeito. Em um estudo de 2010, cientistas da Universidade de Houston separaram um grupo de ratos amantes do álcool, e deu à metade deles rodas de exercício, enquanto a outra metade permaneceu sedentária durante três semanas. Em seguida, eles tiraram as rodas e concederam bebida a metade dos roedores em cada grupo, suspeitando que os ratos em forma iriam beber menos do que os preguiçosos. Errado. Eles beberam mais.

A professora associada de psicologia e autora do estudo, J. Lazer Leigh, Ph.D., ficou surpresa quando viu o resultado da experiência. Ela começou a olhar para o que estava acontecendo no cérebro. “Nós descobrimos que os ratos que se exercitaram antes de beber álcool precisam de mais álcool do que ratos sedentários para mostrar os mesmos sinais de intoxicação”, disse ela.

Em resumo, os ratos precisavam de mais álcool para ficar tontos, o que poderia explicar algumas coisas sobre o comportamento humano. “Como o álcool aumenta a atividade do sistema opióide do cérebro, é possível que o exercício pode causar tolerância maior aos efeitos do álcool, e fazer com que os atletas bebam mais para sentir os mesmos efeitos”, diz Lazer.

Curiosamente, a pesquisa descobriu que o uso alternado, com moderação, de exercício e álcool, pode substituir um ao outro se a intenção for de bem estar, permitindo que as pessoas parem de trocar a forma natural, e altamente saudável (exercício) pela potencialmente prejudicial (álcool).

 

Sua saúde num copo

Mas teoricamente há uma grande diferença nessa ligação entre o exercício e a bebida. O excesso no consumo de álcool pode levar à apoptose, ou morte celular no cérebro. Enquanto isso, as sessões de suor, por outro lado, aumentam drasticamente a produção de neurotrofinas, para a produção de novas células cerebrais, diz Christie. O exercício serve como um fertilizante para o cérebro, que duplica ou triplica os neurônios e leva a um melhor funcionamento cognitivo.

Dito isto, não se iluda pensando que a sua viagem diária à academia lhe dá um passe livre para ir ao bar. Estar em forma pode fazer você se sentir imune aos efeitos nocivos do consumo de álcool, tais como doenças do fígado, diabetes e certos tipos de câncer, e até mesmo levá-lo a pensar que nunca poderia se transformar em um alcoólatra. Mas, como se vê, o mesmo estudo da Columbia University descobriu que as mulheres estão cada vez mais alcoólatras.

A explicação é que as mulheres têm mais gordura corporal e menos água, e por isso não absorvem e diluem o álcool como os homens. Elas também têm uma menor concentração de desidrogenase, a principal enzima que decompõe o álcool no corpo. Hormônios flutuantes da mulher pioram a situação, uma vez que o estrogênio afeta o metabolismo do álcool. É por isso que uma bebida que pode dar uma leve sensação de bem estar, pode trazer consequências mais sérias depois.

Ninguém está dizendo para desligar a torneira completamente. O consumo moderado de álcool (dois drinques por dia para os homens, um para mulheres, segundo alguns médicos) está ligado à longevidade.