Por que temos tantos porquês?

Por Rodrigo Maia

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Em mais de 90% das aulas em que leciono, uma das principais dúvidas dos alunos é o uso correto dos “temidos” porquês. Ninguém entende qual o motivo de existir tantas opções. Na verdade, são apenas quatro; porém, suficientes para deixar usuários e alunos doidos na hora de escrever um texto.

Até as pessoas com uma formação mais avançada acabam ficando com dúvida. Diariamente, recebo dezenas de mensagens sobre esse assunto. Empresários, advogados, jornalistas, engenheiros, médicos e professores: muitos não sabem como usar os porquês de forma correta, do ponto de vista gramatical.

Mas aí surge a pergunta: Será que é um exagero ter quatro formas para o “porquê”?

Eu não vou fugir da polêmica. Considero que o Português Brasileiro já recebeu diversas influências e, por conta do uso, mudou algumas questões ortográficas, morfológicas, sintáticas e semânticas. E uma delas é o uso dos porquês.

Não há mais motivos para tantas opções. É hora de pesquisar e verificar quais são as formas mais utilizadas em cada contexto para, assim, reduzi-las de acordo com o uso. Sem forçar alterações, sem inventar novidades esdrúxulas; apenas consagrando o uso.

Contudo, por enquanto, ainda temos as quatro formas dentro dos padrões normativos gramaticais. Então, é preciso entendê-las. Confira!

1. PORQUE (junto e sem acento): É uma conjunção explicativa. Usamos, por exemplo, para responder perguntas. Essa forma pode ser substituída por “POIS.” Ex.: Eu estou lendo esse artigo, porque (pois) preciso entender melhor essa questão.

2. PORQUÊ (junto e com acento): É um substantivo e, portanto, vem acompanhado de artigo, numeral, adjetivo ou pronome. Ex.: Não tem jeito, você sempre começa com seus porquês pra justificar tudo o que faz de errado.

3. POR QUE (separado e sem acento): Usa-se quando for “motivo pelo qual” ou quando for uma sentença interrogativa. Ex. (1): Agora eu sei por que (motivo pelo qual) você nunca fala comigo. Ex. (2): Por que a gente não vai ao cinema?

4. POR QUÊ (separado e com acento no “que”): Quando o “que” estiver em final de sentença, ou seja, ao lado da pontuação, precisa sempre ter o acento, em todos os casos. Ex. (1): Ele está triste por quê? Por quê? Ex. (2): O quê? E eu posso fazer o quê?

Não há mistério para entender o uso adequado dos porquês. O problema é que, na hora de colocar na prática de um texto, surgem as dúvidas. A pessoa fica lendo de novo pra ver se é pergunta, se é resposta. Fica tentando decorar as regras.

A dica é: procure entender cada exemplo e escreva! Nosso Português não é tão difícil como dizem. É só uma questão de escrever mais em situações formais de uso.

As mudanças são naturais e previstas em todas as línguas do mundo. Uma dessas alterações poderia ser a redução das formas de uso dos “porquês”. E, como disse, uma boa pesquisa pode começar. Quem sabe, assim, em uma próxima gramática do Português Brasileiro, já admitamos novas regras para essa questão? O que vocês acham?

O importante mesmo é lembrarmos que a língua é dinâmica e viva!