Por que toda mulher deve ser dona de casa

Por Arlaine Castro

Toda mulher deve ser dona de casa. Deve ser dona de casa, de carro, de empresa, de imóveis de aluguel e de mais o que ela quiser! Aliás, mulher deve também ser dona de si, capaz de responder por seus atos e ser autossuficiente. A matéria especial do Dia das Mulheres desta edição "Mulheres ampliam participação na força de trabalho e contam os desafios de ocuparem funções 'masculinas", na página 10, traz dados e informações atualizadas da participação feminina no mercado de trabalho - ainda engatinhando. Apesar do avanço da participação feminina no mercado de trabalho, as mulheres têm muito mais probabilidade de trabalhar em meio período e em empregos com remuneração mais baixa. Isso porque muitas são forçadas a escolher um trabalho mais flexível, que pode ser em part-time e mais perto de casa, porque elas precisam ou se espera que cuidem de suas famílias. Mulher tem mesmo que ser dona do próprio nariz. Já cabe a ela ser a dona do lar (bem diferente de ser dona do imóvel onde mora), dos filhos, do marido, da família, das roupas de passar, do jantar bem feito. Por que não dona daquele cargo de diretora que lhe cabe tão bem? Por que não dona daquela empresa para a qual dá todo o seu suor, suas melhores ideias e o seu desempenho? No setor privado, as chances de promoção para os homens são cerca de uma vez e meia mais altas do que para as mulheres. Usando dados de 2018 da Equal Employment Opportunity Commission (EEOC) divulgados pelo Yahoo Finance sobre o número de funcionários e gerentes e o total de trabalhadores de colarinho branco, descobrimos que as chances de promoção para os homens são de cerca de 28% em comparação com 18% para as mulheres. Ser rotulada como “o sexo frágil” ainda é uma realidade para as mulheres. Mas a humanidade aos poucos começa a entender melhor essa definição. A fragilidade, até então dita e entendida como fraqueza associada à força física, não é a única realidade. Neste caso, o verdadeiro significado de força é apontado como outro no livro "Women who Run with the Wolves" ("Mulheres que correm com os lobos", na versão em português). "Ser forte não significa exercitar os músculos. Significa encontrar seu próprio brilho sem fugir, vivendo ativamente com a natureza selvagem de uma maneira própria. Significa ser capaz de aprender, ser capaz de defender o que sabemos. Significa se manter e viver”, explica Clarissa Pinkola Estés, autora do livro. Ou seja, a força de um "sexo frágil" não é sobre "quem consegue levantar mais pesos nos braços, quem consegue carregar mais quilos nas costas nem quem resiste mais em uma corrida. Forte é quem encara, quem não foge, quem mostra sem medo sua identidade, quem não se rende, quem vive com alegria e coragem", parafraseando um trecho da análise do livro retirado do site "A mente é maravilhosa". Pelos números, vemos que a valorização das mulheres e o pagamento igualitário no mercado de trabalho são lutas ainda longe do resultado e necessárias. "Entre 2005 e 2015, o número de famílias compostas por mães solo subiu de 10,5 milhões para 11,6 milhões, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O número de lares brasileiros chefiados por mulheres cresceu de 23% para 40% entre 1995 e 2015, de acordo com a pesquisa Retrato das Desigualdades de Gênero e Raça, de 2017, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea)", cita a matéria "Forbes tem 1ª capa com gestante brasileira, mas realidade de grávidas no mercado é difícil', publicada recentemente pelo portal Hypeness. Um estudo realizado pelo Instituto Peterson de Economia Internacional, com mais de 20 mil empresas de 91 países, identificou que as organizações com até 30% de liderança feminina tiveram um aumento de 15% em rentabilidade. Por tudo isso, é preciso e necessário entender que as mulheres buscam o seu lugar ao sol no mercado de trabalho e não tomem isso como "pegar o lugar do homem no trabalho ou querer se igualar aos homens em tudo". A busca não é essa. A busca é para ter espaço onde elas possam mostrar sua capacidade intelectual que vai além, muito além, do tanque e do fogão. E que todas possam um dia sim, ser donas de uma casa!