Português sem “nhe-nhe-nhem”: a origem das palavras

Por Rodrigo Maia

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No uso cotidiano da Língua Portuguesa, relacionado ao universo do futebol, é comum ouvirmos expressões como: “Este técnico é meia-tigela, os jogadores são cheios de nhe-nhe-nhem, os dirigentes do clube são tratantes”. Depois de um vexame e uma goleada humilhante, por exemplo, os torcedores querem que todos vão para os quintos do inferno! Confesso que adoro futebol e poderia até dar minha opinião em relação a algum jogo ou até em relação à Seleção Brasileira. Porém, aqui, nossa conversa é sobre o Português Brasileiro. Então, selecionei algumas palavras pra gente entender a origem. Veja só que bacana.

Meia-tigela Essa expressão é mais antiga, mas ainda é utilizada. Aqui no Brasil, quando a gente fala que alguém é meia-tigela, a referência é para pessoas sem valor, medíocres ou até insignificantes. No entanto, a expressão é originada lá da monarquia portuguesa. Os criados que não moravam no palácio comiam de acordo com as observações previstas no “Livro da Cozinha del Rei”. Nos escritos, estavam estipuladas as quantidades que cada um podia comer, de acordo com a importância do serviço que prestavam. Por isso, aqueles que não realizavam serviços relevantes, ficavam apenas com meia tigela. Daí a expressão “meia-tigela” para pessoas sem importância ou de qualidade inferior.

Nhe-nhe-nhem Sim, essa palavra existe. É um substantivo masculino. Está lá no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa e nos dicionários brasileiros. A origem é na língua tupi, na qual “nheem” significa falar. Em meados do século XVI, aqui no Brasil, os portugueses achavam que os índios falavam muito. Então, eles usavam três vezes a palavra “falar” para representar esse tal “falatório”. Surge daí o nhe-nhe-nhem, que quer dizer “falar, falar, falar”.

Tratante Tratante é uma pessoa que trata de negócios. Esse foi o sentido inicial da palavra. É o mesmo caso de estudante (aquele que estuda) e falante (aquele que fala). Há alguns séculos, tratante era a pessoa que tratava dos negócios de pessoas nobres. Ele fazia a intermediação entre os negociantes. Mas, como os envolvidos não se falavam, o tratante começou a “tratar” muito mais dele mesmo e, assim, aumentar seus próprios ganhos, sem a ciência dos envolvidos. Por essa razão, o tratante ficou com a fama de desonesto ou trapaceiro.

Quintos do Inferno No período de colonização do Brasil, as navegações de Portugal transitavam entre os dois países. E quando uma embarcação chegava em terras portuguesas, vinda do Brasil, o povo falava: “Lá vem a nau dos quintos do inferno”. O nome “inferno” era a forma como os patrícios portugueses chamavam nosso país. Já o termo “quintos” era uma referência ao imposto de 20% arrecadado do ouro extraído no Brasil, ou seja, “um quinto”. Aos poucos, essa expressão “quintos do inferno” recebeu o significado de um xingamento para mandar alguém a um lugar muito ruim. Sempre é muito bacana conhecer a origem das palavras, não é verdade? Hoje, separei termos relacionados ao futebol. Agora, como aqui no Brasil tudo acaba com música, não custa terminar o texto de hoje, dizendo que a palavra “Pagode” veio do Dravítico, um idioma falado no sul da Índia. Nesta língua,”pagôdi” é o templo usado para o culto de ídolos. A palavra tem origem do sânscrito “bhagavati”, que significa deusa. Em épocas de colonização, os navegantes portugueses, nas viagens para o Oriente, conheceram a expressão “pagôdi” para designar os festivais budistas de música. A Língua Portuguesa incorporou o termo para fazer referência ao divertimento. A palavra também chegou no Brasil e, por aqui, batizou os tipos de música que contavam com dança e percussão. Por isso, uma das manifestações de samba foi chamada de pagode.