Por Letícia Kfuri
O prefeito de Pompano Beach, Lamar Fisher, pretende requerer de todos os estabelecimentos que funcionam 24 horas que implantem um sistema de vigilância com câmeras internas e externas. Segundo ele, um auxílio financeiro poderia ser concedido aos proprietários.
A proposta surge pouco depois do assassinato do sargento Chris Reyka, ocorrido em 10 de agosto no estacionamento da Walgreens, na Powerline Road. As câmeras de segurança, instaladas do outro lado da rua, captaram apenas imagens pouco definidas de um carro branco suspeito. A idéia ainda tem que ser aprovada pelos comissioners da cidade.
Uma lei estadual, de 1992, exige que sistemas de segurança com câmeras sejam instalados apenas em lojas que vendam comestíveis e combustíveis, entre 11 da noite e 5 da manhã. Baseado em um argumento de analistas de violência, de que mais vigilância solucionaria crimes, o prefeito Lamar Fisher sugeriu que sejam incluídos na lista lojas de conveniência, retaurantes, farmácias e drogarias e qualquer estabelecimento que funcione 24 horas.
- Se tivéssemos uma câmera (no Walgreens), possivelmente teríamos também uma imagem adequada daquele carro. Não se sabe”, disse Fisher.
Caso a medida seja aprovada em Pompano, a cidade poderá requerer aos proprietários de tais estabelecimentos que instalem, pelo menos, uma câmera interna e uma externa. Pequenos empresários, de acordo com a proposta, receberiam auxílio financeira, caso mostrem não ter condições financeiras de implantar o sistema de vigilância.
Wilson Souza, gerente do Supermercado Brasileiro, em Pompano Beach, acredita que a medida deverá ajudar a melhorar a segurança na cidade. Há três semanas, o supermercado foi arrombado por assaltantes que, aparentemente, pretendiam chegar até lojas ao lado, onde funcionam uma joalheria e uma empresa de telefones celulares. Os ladrões fugiram sem levar nada.
Para ele, manter sistemas de vigilância dentro do estabelecimento é uma obrigação do proprietário. Já do lado de fora, ele acredita ser obrigação dos responsáveis pelo mall. “Acredito que a iniciativa é importante para todos os estabelecimentos, não só aqueles que funcionam 24 horas. Se a loja está fechada, não há risco de ninguém se ferir em um possível assalto, mas a propriedade tem que ser preservada”, avalia Souza.
Áurea Queiroz, que trabalha em uma joalheria localizada no mesmo mall, entende que sistemas de vigilância com câmeras oferecem mais segurança para clientes e funcionários. “As câmeras são mais um impedimento para assaltos. Eles ficam mais coagidos”, afirma Queiroz referindo-se aos assaltantes. Há cerca de um mês e meio, as câmeras de segurança da joalheria auxiliaram a identificar o responsável por um furto ocorrido no local. “Essa é mais uma prova de que a câmera ajuda. Toda ajuda é bem vinda”, disse a vendedora.
Elizabeth Wolny, analista de crimes do escritório do Xerife, em Pompano Beach, é autora da sugestão de ampliação do sistema de vigilância. Ela trabalhou com o sargento Reyka durante 10 anos, e está convencida de que a lei poderá ajudar. “Hoje em dia há mais empresas de grande porte abertas 24 horas”, avalia.
Wolny também quer que os legisladores apresentem emenda à atual lei estadual que requer a vigilância 24 horas, batizando a legislação com o nome do policial assassinado. A proposta está sendo elaborada pelo representante estadual democrata, de Coral Springs, Ari Porth.
Wolny realizou pesquisa nas redes de drogarias CVS, Wal-Mart e Walgreens, que funcionam 24 horas, e concluiu que entre 1° de janeiro de 2006 e 12 de agosto de 2007, houve mais de 399 crimes, e que 85 deles aconteceram entre 10:30 da noite e 6:30 da manhã. Os crimes, segundo ela, foram de furto de produtos, roubo de carros e assalto à mão armada. Ela observou ainda que muitas farmácias têm câmeras internas, mas não externas.
Na avaliação do comissioner George Brummer, a lei não deveria limitar-se aos estabelecimentos que funcionam 24 horas. Ele defende que o município exija que todos os estabelecimentos comerciais instalem o sistema de vigilância. “Não é prático, em termos financeiros, para o município, checar quem está aberto ou não”, disse.
A porta-voz da Liga de Cidades da Flórida, Sharon Bernian, disse não ter co-nhecimento de qualquer outra cidade que tenha aprovado legislação semelhante. As entidades ligadas à defesa das liberdades civis recomendam cuidado na discussão do tema.
- É verdade que estamos nos tornando mais e mais uma sociedade sob vigilância em lojas de conveniência, bancos e escritórios. A diferença aqui é que os programas de vigilância são determinados pelo governo”, disse Howard Simon, diretor-Executivo da American Civil Libertires Union da Flórida.
Ele alerta ainda para os que aponta como os reais efeitos de tal medida. “O grande ponto de tudo isso é: - Isso vai nos tornar mais seguros? Isso é uma troca dos direitos de pessoas inocentes por segurança. É necessário que se veja se isso realmente vai ajudar de alguma maneira”, concluiu.

