Prêmio Nobel pede ética na exploração de florestas na África

Por Gazeta Admininstrator

A vencedora do Prêmio Nobel da Paz 2004, a vice-ministra de Meio Ambiente do Quênia, Wangari Maathai, exigiu hoje, terça-feira, um código de ética para as multinacionais que destroem as florestas na África.

Maathai fez a exigência após discursar no V Fórum das Florestas que acontece na sede da ONU em Nova York, onde frisou a importância da proteção do ecossistema dos países pobres, dada a sua vinculação estreita com o desenvolvimento e a paz.

Após ressaltar que a ganância e o oportunismo movimentam os governos e as empresas, defendeu a criação de um código de conduta para controlar as atividades das multinacionais, especialmente do setor madeireiro, nos países em desenvolvimento.

"São necessários regulamentos éticos para que estas companhias não destruam as florestas em países cuja situação já é vulnerável", ressaltou Maathai em entrevista coletiva.

A Prêmio Nobel reconheceu que nem sempre há "pessoas ruins" no comando das companhias, como também há muitas dispostas a planejar e a examinar as conseqüências do desflorestamento a longo prazo.

Ela também criticou a população local que vive nas montanhas, que, usando a pobreza e a escassez de terra como desculpa, utilizam as áreas florestais naturais como zonas de cultivo de produtos comerciais.

"Todos eles podem encontrar alternativas a seu modo de vida e a satisfação de suas necessidades. Infelizmente, não existem alternativas para os serviços que as florestas oferecem. Quando perdemos estes ecossistemas, geralmente é para sempre", afirmou.

Maathai, que recebeu o Nobel por sua dedicação ao meio ambiente através de projetos de plantação de árvores na África, fez uma menção especial ao grave problema do desflorestamento no Haiti.

Ela também defendeu iniciativas baratas, apoiadas pelos governos, como a de conscientização das comunidades locais, para que estas colaborem plantando árvores para reflorestar as matas.

"Estes esforços devem ser apoiados porque o ecossistema é central para a preservação da biodiversidade, a mudança climática, a agricultura, as fontes energéticas e a água", especificou.

A ativista destacou a necessidade de uma exploração mais sustentável e equitativa das florestas, o que também contribuiria para o fim de muitos conflitos em regiões como a África, os quais geralmente se originam pelo controle dos recursos naturais.

Neste contexto, apoiou a iniciativa levada a cabo por 11 países da região da África Central no chamado Plano de Convergência para uma gestão conjunta e sustentável dos recursos florestais.

Maathai defendeu a criação de um Fundo Fiduciário, que seja financiado por juros da dívida de países em desenvolvimento e que seja supervisionado pelos governos africanos, pelas nações industrializadas e por membros do setor privado.

"Isto vai permitir que se assegure o uso adequado da troca da dívida em projetos de conservação", declarou.

Segundo a vencedora do Prêmio Nobel, a última palavra é dos governos e das elites sociais, que devem traduzir os acordos e documentos em ações concretas e com vistas a um futuro mais distante.

Por sua vez, o presidente do fórum, o colombiano Manuel Rodríguez-Becerra, frisou a importância de os governos renovarem seu compromisso político, financeiro e tecnológico para pôr fim ao desmatamento e à destruição das florestas.

"Para muitos países, o desmatamento e a degradação florestal é um dos maiores obstáculos para o desenvolvimento", declarou Rodríguez-Becerra.