Presidente da Bolívia alerta para risco de guerra civil

Por Gazeta Admininstrator

Mesa teme que país continue em um 'caminho impossível'
O presidente da Bolívia, Carlos Mesa, fez um apelo para que seu sucessor imediato, o senador Hormando Vaca Díez, desista de suas ambições presidenciais a fim de evitar uma guerra civil no país.
Vaca Díez é o presidente do Senado e será o próximo da linha sucessória, caso o Congresso aceite o pedido de renúncia de Mesa na quinta-feira.

Em um pronunciamento na TV, o presidente boliviano disse que o país está “à beira de uma guerra civil” e pediu ao senador que siga o seu exemplo e não assuma a Presidência.

“Em suas mãos está (a oportunidade de) mostrar à Bolívia um rasgo de generosidade, que lhe deixará mais próximo deste povo”, disse Mesa, dirigindo-se diretamente a Vaca Díez.

Segundo ele, manter o rumo atual da política boliviana seria “insistir em um caminho impossível”.

Solução política

Caso Vaca Díez também renuncie, o próximo na linha sucessória é o presidente da Câmara dos Deputados, Mario Cossío, e, em seguida, o presidente da Corte Suprema, Eduardo Rodríguez, que seria obrigado a convocar eleições.

Vaca Díez pode assumir se renúncia de Mesa for aceita
Esta seria a solução política que Mesa gostaria de ver tomando lugar após sua renúncia.

Na segunda-feira, quando Mesa apresentou sua renúncia, Vaca Díez não abriu mão de assumir a Presidência, apesar de sofrer oposição de todos os setores sociais que atualmente paralisam o país.

O presidente do Senado pertence ao Movimento da Esquerda Revolucionária (MIR, na sigla em espanhol), que foi um estreito aliado do presidente Gonzalo Sánchez de Lozada, cujo governo caiu após violentos confrontos em outubro de 2003.

O MIR permaneceu ao lado de Sánchez de Lozada até o final de seu governo, mesmo depois que outros grupos políticos, sindicais e empresariais já haviam abandonado o barco.

Vaca Díez convocou o Parlamento para se reunir na quinta-feira em Sucre para decidir se a renúncia de Mesa será aceita.

A sessão será realizada em Sucre porque não haveria condições de garantir a segurança dos congressistas em La Paz, a capital do país.

Protestos

Na terça-feira, dezenas de milhares de manifestantes voltaram às ruas de La Paz.

Eles jogaram dinamite na polícia, que respondeu com bombas de gás lacrimogêneo.

Os manifestantes bloquearam ruas e estradas e fazem pressão para que suas exigências de nacionalização da exploração das reservas de gás natural sejam atendidas.

Além disso, eles querem garantias de que Mesa não será substituído por Vaca Díez.

Vaca Díez é amplamente rejeitado pelos manifestantes. Analistas afirmam que a única solução é o senador deixar a Presidência a cargo do chefe da Suprema Corte.

O correspondente da BBC em La Paz Elliott Gotkine afirma que Mesa pensou que sua renúncia encerraria os protestos, mas estava errado.

Segundo o correspondente, os protestos ficaram mais violentos, e agora La Paz parece uma cidade em guerra.

De acordo com a Constituição do país, Carlos Mesa deve continuar exercendo suas funções até que a sucessão seja completada.

Um dos principais líderes da oposição de esquerda, o deputado indígena Evo Morales, acusou há alguns dias Vaca Díez de ter ambições presidenciais e de articular um golpe para assumir o poder.

Morales, líder dos plantadores de folha de coca, disse que só se pode acreditar parcialmente no pedido de renúncia de Mesa, "porque em nenhum momento ele mencionou que ela seja irrevogável".

Brasil

O ministro das Relações Exteriores brasileiro, Celso Amorim, disse que ainda é cedo para fazer comentários sobre a situação na Bolívia.

"Sempre que solicitado, o Brasil estará pronto a ajudar, junto com os demais países sul-americanos, mas caberá à Bolívia fazer tal solicitação", declarou Amorim.

"Tenho certeza de que há hoje, na Bolívia, maturidade para uma solução pacífica e equilibrada."

Mesa se tornou presidente em outubro de 2003, depois que protestos semelhantes levaram seu antecessor, Gonzalo Sanchéz de Losada, à renúncia.

O parlamentares podem rejeitar a decisão de Mesa, como já aconteceu anteriormente em março, quando o presidente também ofereceu sua renúncia ao Congresso.