Prisão de dupla é só o começo

Por Gazeta Admininstrator

Por: Letícia Kfuri.

A prisão dos brasileiros Marco Spadini Barbosa e Gustavo do Vale, na semana passada, em Pompano Beach, por falsificação e venda de documentos, é apenas “a ponta de um iceberg”. Os agentes federais que investigam o crime acreditam que não foi pequeno o número de documentos federais e estaduais falsificados e vendidos pela dupla. Agora, aqueles que compraram tais documentos estão na mira dos investigadores. A pena mínima por compra, posse e uso de documento falso pode variar entre 2 e 10 anos de prisão, além de deportação, é claro. A pena para a dupla pode chegar a 15 anos de prisão, por cada infração, além de deportação.

As informações são do advogado criminalista Max Whitney, que não tem dúvidas de que as investigações continuam. “Se eles foram detidos pelo US Marshals, você pode ter certeza de que uma investigação está sendo conduzida detalhadamente. E pode ter certeza que não é coisa pequena. Quem comprou documento frio nas mãos deles poderá ser indiciado. Um é culpado de ter “feito”, e o outro de ter comprado e usado. Ambas são condutas de violação de leis federais”.

Ele explica que a compra e utilização de documento falso pode resultar em penas múltiplas. “A pessoa pode ser acusada de vários crimes. A pessoa pode ser acusada por ter obtido documento falso e, também, por portar documento falso e, além disso, por usar documento falso. Os crimes são independentes, e as penas podem ser consecutivas”, detalha o advogado. Whitney explica ainda que, a cada vez que uma pessoa utiliza um documento falso, está incorrendo em mais um crime. “Se a pessoa usar um documento falso para trocar dois cheques, um em cada dia, a justiça pode entender que são crimes consecutivos, e a pena será aumentada”, esclarece o advogado.

Whitney lembra ainda que, após os atentados de 11 de setembro de 2001, os crimes de falsificação de documentos não são mais encarados da mesma maneira. “Isso está conectado à segurança nacional. Não sabem, por exemplo, se o documento será utilizado para enviar dinheiro para uma célula terrorista. Várias células terroristas desarticuladas utilizavam documentos falsos”, lembra.

O Crime
Barbosa e do Vale foram presos na segunda-feira(5) sob a acusação de falsificação de documentos federais, a exemplo de carteiras de Social Security e de habilitação, de fichas I-94 (ficha de entrada no País), e carimbos da Imigração. Ambos são também acusados de venda de passaportes falsos. A prisão da dupla aconteceu como resultado de uma investigação conduzida por agentes do escritório US Marshals no Sul da Flórida. O US Marshals é uma das mais temidas forças policiais dos EUA, e funciona como o braço policial das cortes federais. Em geral, só se envolve na investigação de casos ligados a redes de criminosos.

Os agentes federais apuraram que os documentos eram vendidos por cerca de $1 mil a $2 mil, dependendo do documento e que, ultimamente, os dois dedicavam a maior parte do tempo ao negócio escuso, que mostrava-se “promissor”. Barbosa e do Vale chegaram aos EUA há quase uma década e, aparentemente, levavam uma vida decente. Tornaram-se conhecidos da comunidade por trabalharem em concessionárias de automóveis. Lidavam diretamente com o público, e apareciam sorrindo nos anúncios das empresas para as quais trabalhavam. Uma vida aparentemente normal. Em um dado momento, possivelmente motivados por um baque financeiro, especulam membros da comunidade (Barbosa teria sido mal sucedido em uma série de negócios que entrou), os dois teriam escolhido o caminho do crime.

Espião
Na avaliação de Whitney, a prisão dos dois reforça a hipótese de que, de fato, haja um espião infiltrado na comunidade brasileira. Ele lembra que os brasileiros são o único povo da América Latina que fala português, e não espanhol, o que torna difícil a aproximação de policiais ou agentes de imigração sem que sejam percebidos.

Ele observa que, embora ambos oferecessem os documentos falsos abertamente, em locais públicos, seria difícil para um policial saber detalhes de toda a operação, sem que houvesse uma pessoa infiltrada na comunidade. “Em casos como esse, alguém é pego e usado para comprometer os outros e, assim, acaba se tornando informante. A função dessa pessoa é se infiltrar, conhecer detalhes da operação, saber quantos documentos foram emitidos, para quem, os valores, onde estão os envolvidos, enfim, dar o máximo de informações, para ter o benefício da redução da pena ou, às vezes, em casos raros, a isenção da pena.”, explica Whitney.

O advogado acredita que o possível informante esteja solto, convivendo normalmente com a comunidade, mas lembra que quem não está fazendo nada de errado, não tem porque se preocupar. “Considerando que falamos outro idioma, a hipótese de alguém infiltrado é muito grande. Falo com base em pessoas que, infelizmente, usam da familiaridade com os costumes e a língua, se infiltram e tentam encontrar algo para ser usado contra a comunidade. Temos um ou mais espiões espalhados na comunidade. Isso é óbvio para um advogado criminal experiente. E, muito possivelmente, essa pessoa que entregou continua solta. Mas os membros da comunidade que não estão fazendo nada errado, não têm porque se preocupar, porque a pessoa poderá procurar e não vai encontrar nada”, diz Whitney.

A prisão dos dois brasileiros provocou um certo alívio entre a comunidade, que já sentia o desconforto de presenciar a forma desavergonhada com que os dois brasileiros ofereciam a documentação ilícita. “Eles ficavam quase o dia inteiro em um estabelecimento brasileiro oferecendo abertamente os documentos. Todo mundo já estava revoltado. Ninguém entendia como a polícia e a justiça não faziam nada. Já teve gente querendo se reunir e fazer a denúncia, um movimento de comerciantes”, disse uma fonte que preferiu não se identificar. A mesma fonte afirma que os dois não eram os únicos. “Está cheio de pessoas que fazem o mesmo, com a mesma cara de pau, oferecendo em público, driver’s license, carimbos oficiais, tudo o que aparece”, diz a fonte.