Produtividade

Por Marcelo Mello

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Por que será que as empresas reclamam tanto da falta de produtividade de seus funcionários – já disse que me recuso a falar colaboradores simplesmente porque não faz o menor sentido – e nada fazem de efetivo a respeito?

E quem detecta essa falta de produtividade, é produtivo? O responsável dentro de uma empresa, tenha ela o tamanho que for, por detectar a falta de produtividade não tem ele mesmo a obrigação de corrigir isso? Existe um responsável pelo tema na sua empresa? Bem, se ela for grande talvez. Se for pequena, é o dono. Se você for o dono, a responsabilidade é todinha sua.

Uma vez fui chamado por uma grande companhia para “descobrir” por que é que a falta de produtividade estava atingindo níveis alarmantes. Fiquei lá por uma semana com livre acesso a tudo, conversas isoladas ou do submundo das salinhas do café, papos nas áreas de fumantes, enfim, até em reuniões de Diretoria eu me enfiei. É assim que trabalho, sou consultor de campo. Foi fácil descobrir o principal motivo: Interesse. Ou há falta dele ou há excesso individual de interesses.

Conversando aqui e ali, observando atitudes, ou a falta delas, notei que é possível traçar um paralelo com nossa República, ainda que saibamos que impera no Brasil uma ditadura escancarada, não disfarçada. Há o interesse pessoal e há os que não se interessam por nada.

Por exemplo, criam-se determinações que os funcionários devem seguir para serem mais produtivos. Eles seguem, mas só nas duas primeiras semanas. Aí a rotina é retomada e pronto, o que era uma medida boa se perdeu porque não despertou interesse algum.

É mais ou menos o que acontece quando vamos a uma palestra motivacional. Sei bem o que é isso, entre outras coisas, ministro palestras. Todas elas têm um efeito de espuma de cerveja. Tanto faz o mote ou o palestrante, serve para todos. Aquele entusiasmo inicial que causamos nas pessoas quando subimos no palco e dizemos coisas legais, pensadas e que fazem todo sentido, duram no máximo um dia, dois, talvez três se o ouvinte estiver muito empenhado em melhorar seu comportamento. Fora isso, quinze minutos é o suficiente para entrar por um ouvido e sair pelo outro, tendo nesse meio tempo vagado pelo espaço vazio, se é que me entendem.

No final daquele trabalho que mencionei, em vez de apresentar-lhes um parecer, pontuei algumas questões para instigá-los a pensar profundamente sobre o problema: “Não lhes parece óbvio que as reuniões eternas discutem o nada? Que as apresentações são recheadas de “Powerpoint” para mascarar a falta de conteúdo interessante dos apresentadores? É tão difícil assim perceber que ninguém desperta o interesse dos funcionários nas questões relevantes da empresa? Não enxergam que fazem reuniões para se chegar à conclusão de que o assunto deverá ser discutido numa próxima reunião?”.

A resposta? Bem, foi óbvia: “Marcaremos outra reunião para analisar o assunto”. Em outras palavras, agendamos nova conversa para debater a mesma coisa. Na boa, o mundo corporativo dá nos nervos...