Professora agredida em sala de aula recebe ameaças pela internet

Por Gazeta News

professora agredida SC Foto Reprodução Facebook
[caption id="attachment_151639" align="alignleft" width="300"] Marcia Friggi, de 51 anos, tirou fotos e postou na internet a agressão sofrida em sala de aula. Reprodução: Facebook.[/caption]

A agressão sofrida pela professora de língua portuguesa e literatura Marcia Friggi, de 51 anos, foi postada por ela mesma na internet como forma de expor a real situação vivida pelos professores no Brasil, mas, ao postá-la, também foi alvo de ameaças.

Ao dar sua primeira aula para uma turma da EJA (Educação de Jovens e Adultos), numa escola em que trabalha há quatro anos emIndaial (SC), na última segunda-feira, 21, a professora pediu que o aluno colocasse um livro que estava entre as pernas sobre a mesa, o que iniciou uma série de xingamentos e posterior agressão. Segundo a professora, o aluno jogou o livro em sua direção. Ela resolveu então levá-lo à diretoria, momento em que recebeu os socos.

A professora resolveu postar o fato em rede social para chamar a atenção para a falta de valorização dos profissionais da educação e a insegurança em sala de aula. "Ele, um menino forte de 15 anos, começou a me agredir. Foi muito rápido, não tive tempo ou possibilidade de defesa. O último soco me jogou na parede", escreveu a professora.

Porém, junto com manifestações de solidariedade, a professora recebeu várias mensagens de ódio de pessoas que a culparam pelo incidente. Os internautas acusaram-na de ter feito comentários elogiosos a uma ovada desferida contra o deputado federal Jair Bolsonaro.

"Estou estarrecida. Certas pessoas estão escrevendo que eu merecia isso, por meu posicionamento político de esquerda, de feminista. Já atingiram o meu olho, mas não vão me calar. Na sala de aula é uma coisa, mas nas redes sociais tenho todo o direito de me expressar", afirmou a professora, que se desdobra em dois empregos, nas redes municipal e estadual, para sustentar a família.

Nos comentários, ela leu que "apanhou pouco" e que "se a senhora e vários outros professores se preocupassem em ensinar ao invés de imbecilizar os alunos, cenas como essa não existiriam nas escolas. Você é culpada por incentivar o desrespeito, a falta de educação, o vitimismo e o coitadismo".

Agressão à mãe

O aluno agressor estava em sua primeira aula e tem histórico de agressão, inclusive contra a mãe e o Conselho Tutelar. Em 2016, o mesmo jovem já havia sido denunciado por lesão corporal contra a própria mãe e, em 2017, por ameaça contra um Conselheiro Tutelar, que acompanha o desenvolvimento do rapaz. Na ocasião, o jovem havia afirmado que daria um soco no rosto do profissional, tal como acabou fazendo com Friggi.

A delegacia da Polícia Civil de Indaial confirmou ter registrado a ocorrência ainda na manhã da última segunda-feira. Por ser menor de idade, o adolescente teve a atitude anotada em um ato infracional por lesão corporal e deve ser levado a depor ainda esta semana.

O adolescente continua regularmente matriculado na escola. A Prefeitura de Indaial informou que a Secretaria Municipal de Educação e o Juizado de Infância e Adolescência vão avaliar como proceder.

Profissão desvalorizada

Segundo dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), muitos professores brasileiros já vivenciaram experiência como essa. Uma pesquisa de 2014, feita em 34 países, revelou que 12,5% dos educadores brasileiros disseram sofrer agressões verbais ou intimidações de alunos ao menos uma vez por semana. A média entre todos os países foi de 3,4%.

Além da falta de segurança para exercer a profissão, professores brasileiros são comprovadamente mal remunerados. Outro levantamento da OCDE, de 2016, mostrou que os docentes dos ensinos fundamental e médio do país recebem menos da metade do que a média dos profissionais da educação dos 35 países membros da organização.

Com informações da BBC Brasil.