Professora, vamos usar o celular hoje? Vamos, sim!

Por AOTP

Prof. Adriana Domenico*

Como assim? Você, professora, deixa os seus estudantes usarem o celular em aula?

Já vou explicar como o celular se transformou em uma ferramenta importante de aprendizagem na minha aula de português como língua estrangeira, aqui no Peru. Pensando neste cenário, os estudantes são nativos digitais. O celular é praticamente uma extensão de seus corpos, e o objetivo final de um curso de línguas é que o estudante seja um usuário competente do idioma. Hoje, a comunicação nas redes sociais abrange essa competência.

Nessa perspectiva, já faz algum tempo que adotei o uso do celular em atividades pontuais desenvolvidas em aula como: busca de significado de palavras, pesquisa orientada sobre um determinado tema do Brasil e produção de pequenos vídeos e áudios. Porém, há um ano, a universidade onde trabalho instalou em todas as salas de aulas a Apple TV. A primeira reação de alguns alunos foi: “Apple TV? O que é isso?”

Em poucas palavras, é uma set-top box da Apple que funciona como um projetor conectado ao seu iPad ou iPhone. Então, comecei a explorar os aplicativos utilizados pelos meus estudantes: o WhatsApp e o Messenger do Facebook. E por que a escolha e o uso desses aplicativos?

Pelo simples fato de que os estudantes usam a língua viva e um contexto real, em um ambiente descontraído e motivador, que promove e fortalece a integração entre os estudantes. Além disso, os estudantes mais tímidos ou pouco participativos saem da sua zona de conforto. Paralelamente, o docente não só destaca as diferenças entre o registro oral e escrito, mas, principalmente, enaltece a riqueza da formalidade e da informalidade do português do Brasil.

Em que momento da aula e como acontece esta atividade?

É muito fácil organizar esta atividade. O roteiro é o seguinte:

1. Escolho as duplas de trabalho;

2. Organizo as duplas de tal maneira que seus integrantes estejam distantes fisicamente na sala de aula;

3. Essas duplas criam grupo no aplicativo, o qual eu farei parte;

4. Escrevo no quadro e explico o objetivo da atividade. Pode ser um debate ou comentário sobre um determinado assunto que trabalhamos na aula ou diálogos gerais, como por exemplo: o que você fez no final de semana, quais são seus planos para próximo final de semana, o que você gostava de fazer quando era criança: organização de uma festa, etc. 5. Estabeleço o tempo para o desenvolvimento da atividade;

6. Circulo entre os estudantes para esclarecer dúvidas;

7. Faço a retroalimentação coletiva, ou seja, projeto os diálogos através da Apple TV. Com isso, os estudantes podem ler suas produções escritas e, juntos, vamos comentando sobre as inadequações semânticas e ortográficas. Se o professor não contar com este recurso, pode usar um projetor para fazer a atividade com o Messenger do Facebook.

Esse tipo de atividade, entretanto, implica o uso do “internetês”, uma linguagem natural e fácil para falantes nativos, que envolve a expressão de opiniões e sentimentos inerentes ao idioma. Para falantes estrangeiros, este uso informal e real é extremamente importante. Aparecem registros como: pq – porque; vlw – valeu; tbm – também; findi – final de semana; qdo – quando; bjs – beijos; abs – abraços; tava – estava; risadas, entre outros.

Trata-se de um vocabulário que não está no livro didático e que, muitas vezes, os professores não se preocupam em ensinar em razão da responsabilidade da estrutura formal da língua e, ainda, para cumprir com os temas que estão dentro do programa do curso. Porém, esse vocabulário abre as portas para um canal de aprendizado fora da sala de aula, que resulta na interação dos estudantes peruanos com brasileiros por meio das redes sociais.

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*Professora de Língua e Cultura Brasileira no curso de Tradução e Interpretação Profissional na Universidad Peruana de Ciências Aplicadas.