Projetos ecológicos de ambientalista brasileiro chamam a atenção de Obama

Por adminlytron

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Quando o presidente Barack Obama esteve em Miami Beach há alguns meses, seu governo reconheceu e elogiou o planejamento ambiental e ecológico que a cidade vem propondo e implementando. Ele apelidou Miami Beach de “paraíso sustentável” — um elogio aos programas de conservação de energia e água, reciclagem, conscientização e restauração de recifes de corais em South Beach desenvolvidos por um brasileiro, de Niterói, Luiz Rodrigues, hoje diretor-executivo da ECOMB – Environmental Coalition of Miami & the Beaches ou, em português, Coalizão Ambiental de Miami e das Praias.

A ONG foi fundada em 1994 e sua principal atividade era limpeza de praias. Em 2000, Luiz, que vinha para cá da Califórnia, com vasta experiência em biologia marinha e educação ambiental, passou a ser um assíduo voluntário da organização.

Sempre com novas ideias para melhorar as condições do meio ambiente na região, no ano seguinte, ele foi convidado para assumir a direção da ECOMB.

Depois de muita ponderação, aceitou.

Ele trabalhava no Discovery Channel – América Latina das 7h às 15h30, e na ECOMB, na sala de sua casa, até as 2 da manhã. “Me chamavam de Luiz Ecomb”, conta rindo e orgulhoso do sobrenome do qual foi apelidado. Ele trabalhava praticamente sozinho, sem verba e dependendo de voluntários.

Mas com sua simpatia, dedicação e seriedade foi, aos poucos, criando uma enorme credibilidade com os governantes e moradores da cidade, que passaram a acreditar e apoiar suas iniciativas ambientais, entre elas a liderança e participação em grandes eventos de impacto mundial. Um dos principais é o Dia Internacional de Limpeza Costeira, que aconteceu sábado passado e contou com mais de 1000 voluntários em Miami Beach.

“Acho que tenho um objetivo principal, que é de ser um agente de mudança na comunidade”, diz ele. “Não temos condições de mudar o mundo sozinho, mas temos condições de mudar o mundo em nossa volta”. E assim, a ECOMB foi crescendo, cada vez mais presente em Miami Beach.

Em 2007, sob sua orientação, a cidade criou um comitê de sustentabilidade, que usa como base, um guia que foi desenvolvido pelo brasileiro.

Determinado como um bom capricorniano, por sete anos, Luiz foi levando a jornada dupla entre o Discovery e a ONG, até que em 2008, conseguiu uma verba do condado de Miami-Dade, de US$42 mil, para estruturar melhor a ECOMB, já considerada praticamente uma instituição local.

“Eu sempre retiro barreiras”, diz, com humildade mas enorme orgulho de suas conquistas. “Todo trabalho é em beneficio da cidade de Miami Beach, dos turistas e moradores”.

A vida mudou: Luiz deixou o Discovery, passou a trabalhar integralmente nos projetos ambientais e transferiu o escritório de sua casa para uma sala em South Beach. Mas seus planos não pararam por aí.

Ele diz que fez vários estudos e provou matematicamente para os governantes de Miami Beach que só de projeto de limpeza das praias seus esforços economizavam para a cidade mais de US$150 mil por ano. “Fiz todos os cálculos, apresentei para os vereadores e pedi um prédio para a cidade”. E mais uma vez, atingiu seu objetivo.

Em 2009, recebeu um telefonema comunicando que a ONG poderia usar o espaço de uma estação policial que estava se mudando.

“Foram uns seis meses até que finalmente a proposta foi aprovada”, diz.

Hoje, ele aluga por $1,25 (um dólar e 25 centavos) por ano um prédio pequeno mas que em breve se tornará um grande ícone: “Miami Beach Center for the Enviroment”, ou Centro Ambiental de Miami Beach, que vai incorporar todos os conceitos de sustentabilidade e se tornar um espaço de educação e conscientização ambiental e ecológica. Terá aulas e treinamento, programa de reciclagem, biblioteca, uma horta orgânica e uma tela de cinema ao ar livre para passar filmes de meio ambiente, que também faz parte de um novo ramo que Luiz começou a desenvolver no ano passado.

Está programado para o mês que vem, o Festival de Cinema Ambiental – Miami & The Beaches Environmental Film Festival.

Desde pequeno, Luiz, hoje com 53 anos, diz que é apaixonado pela natureza. Filho único, sempre viajava muito com os pais para apreciar a vida natural. Mas foi na escola, numa aula de zoologia, que descobriu sua vocação. Os alunos tiveram que dissecar uma rã e foi aí que tudo começou.

“Comecei a ter um conhecimento mais aprofundado sobre a essência da vida, a formação, a criação da vida”, conta. “Quanto mais estudava, mais fascinado ficava”.

Cursou biologia marinha na Universidade Santa Úrsula, mas com 19 anos, surgiu uma oportunidade para estudar nos Estados Unidos e transferiu os estudos para a Universidade da Califórnia, em Santa Cruz. Se formou com notas altas e em seguida conseguiu uma bolsa para fazer um mestrado, também na Califórnia, onde foi ficando cada vez mais apaixonado por mergulho e recifes de corais, hoje um dos seus projetos favoritos, ainda não realizados em Miami.

Há mais de 10 anos, estava mergulhando em South Beach, logo no início da praia, quando foi surpreendido: encontrou uma mina de corais no mar.

“Tinha corais até perder de vista, tinha peixe borboleta, tinha tudo,” diz Luiz. “Era lindo, como um Jardim do Éden no quintal da sua casa”.

Mas não durou muito.

“Quando fui de novo mergulhar um dia em 2002, não achei nada, tudo desapareceu”.

Luiz descobriu que um projeto do condado para a restauração das praias naquela área não levou em consideração os corais. Trouxeram tanta areia que aterraram e mataram os corais. Agora, o projeto da ECOMB, que espera realizar em breve, vai reconstruir um pequeno grupo de recifes de corais.

Mas projetos novos como esse e a construção dos anexos do prédio da ECOMB não podem demorar muito.

Luiz está sentindo que seu ciclo nos Estados Unidos está terminando. Quer ficar perto dos pais, já com 80 anos, e quando foi ao Brasil para a conferencia das Nações Unidas, Rio+20, percebeu que ainda pode fazer muita coisa por seu país.

“Conheci muita gente interessante”, diz. “Comecei a ter uma ideia diferente que tinha vontade de fazer no Brasil para criar uma parceria – um grupo de ação – entre ONGs, o governo e a industria”.

Mas antes, ele quer finalizar seus projetos aqui, e espera conseguir cada vez mais apoio de empresas, inclusive as brasileiras como vem tido da Vita Coco, VeeV e Leblon Caipirinha.

“A gente nunca vai saber o que está do outro lado da montanha se você não escalar a montanha, então procuro sempre escalar, com persistência, insistência, e com carinho, com cuidado e respeito”, diz o ambientalista brasileiro, hoje o maior defensor do sistema ecológico de Miami Beach.

*Essa reportagem foi publicada originalmente na coluna Direto de Miami, do Portal iG www.colunistas.ig.com.br/diretodemiami