Psicologia do ódio: saiba como funciona

Por Adriana Tanese Nogueira

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O que é o ódio? Do que é feito? Qual a diferença entre ódio e raiva? As respostas a estas e outras perguntas estão contidas no livro “Psychology of Hate” (2005) de Robert Sternberg, ex-presidente da Associação Americana de Psicologia (APA) e curador da revista Contemporary Psychology, que coordenou uma equipe de máximos expoentes no assunto. O ódio não é simplesmente uma emoção, mas um mix psicológico composto de três elementos (inclusive os mesmos do amor), a saber: intimidade (negada), paixão, empenho. Dependendo de como estas características de ativam e se cruzam surgem os diversos tipos de ódio e modos de odiar. A. Negação da intimidade: faz com que a pessoa mantenha uma distância daquilo que considera negativo. Este é o “ódio frio” que sente nojo dos outros e os afasta por serem diferentes e até repulsivos. B. Paixão: ódio como raiva e/ou medo. Este é o “ódio quente” que, cheio de raiva, agride, ou que, cheio de medo, foge dos outros. C. Empenho: desvalorização através do desprezo. É o “ódio gelado” que percebe os outros como seres inferiores. Cada uma dessas três componentes quando combinadas entre si produzem quatro distintas formas de odiar: 1. “Ódio fervente” que é nojo (A) mas também agressão (B): “morte aos gays”, “feminismo é coisa de lésbica ou prostituta”, “bando de idiotas, fiquem longe de mim”, etc. 2. “Ódio mascarado mas quase explosivo” que é nojo (A) mas também desprezo (C). Homicidas impiedosos e premeditados podem assumir esta forma: “um cara normal, reservado e bem educado...” dizem os vizinhos do rapaz que matou a namorada. 3. “Ódio pegando fogo” é a raiva (B) unida a desprezo visceral (C) que leva a difamar os outros e ao linchamento, físico ou virtual. 4. “Ódio que queima” é o nojo (A) mais a raiva (B) mais o desprezo (C). Esta é a forma extrema de ódio, que leva a aniquilar o inimigo e a não ter paz até não tê-lo completamente esmagado. O oposto do ódio não é o amor mas a indiferença. Assim como o amor, o ódio amarra a pessoa ao objeto odiado, dando-lhe uma razão de ser. O ódio, como o amor, torna o indivíduo dependente do outro, pois seus pensamentos e ações giram em torno do outro. Fraqueza ou autoconfiança não são terreno para o surgimento do ódio. Este surge em quem tem força mas a percebe em perigo e está disposto a qualquer coisa para se vingar. E o ódio começa pelos olhos, ou melhor: via um certo modo de olhar. De fato, não é suficiente ter raiva para odiar, é preciso uma certa forma de olhar para o outro. Para poder odiá-lo é preciso vê-lo como diferente, maléfico e imoral. Emerge a distinção entre “nós” e “eles”, mas distinguir ainda não é suficiente. O ódio aparece quando quem faz a distinção se percebe numa situação (interior ou social) que não lhe garante a satisfação de suas necessidades primárias. Nesse estado de precariedade, a distinção entre “nós” e “eles” coloca o “eles” no lugar psicológico de “menos inteligentes, preguiçosos, frágeis, no lugar moral de “maus, egoístas, rebeldes” e no lugar social de ameaça à segurança (“nossa”). Quem chega a odiar: 1. Fará uso de toda informação para formar a categoria do “nós”; 2. A categorização é exagerada: todos têm as mesmas características (dentro ou fora do grupo); 3. Aplica-se o “dois pesos e duas medidas”: o mesmo comportamento é visto de forma diferente quando for “nosso” ou “deles”; 4. “Eles”, após terem sido desvalorizados, são considerados responsáveis de algum dano provocado, pois não se odeia quem não tem culpa.