A Beleza Do Corpo

Por Adriana Tanese Nogueira

body yoga
Quando olhamos para o nosso corpo vemos geralmente algo imperfeito, que dá trabalho, que “não se comporta” como gostaríamos, que nos faz passar vergonha. Os que têm consciência, força de vontade e perseverança, “cuidam” desse corpo com alimentação saudável e exercício físico. Academia, dietas, veganismo, produtos orgânicos, contas astronômicas em opções de vida saudável. Mas o corpo não é simplesmente matéria que ora tratamos mal, ora tentamos dele cuidar para nos servir melhor. Estamos, desta forma, sempre no mesmo paradigma: o corpo visto como um objeto encapsulado em nossa mentalidade do qual exigimos que se adeque às nossas expectativas. E se o corpo se recusasse? E se o corpo fosse um verdadeiro animal que como todo animal tem suas próprias vontades, necessidades, alegrias e tristezas? Pois então, é exatamente isso: o corpo é um organismo vivo, vivo e vibrante. Matéria que sente, que percebe, que busca, que respira suas felicidades e tosse suas rejeições. Um animal que quando enjaulado fica deprimido e quando livre se sente feliz. A liberdade do corpo é a alegria do corpo, e a pessoa “dona” daquele corpo se percebe feliz, sem nem saber porquê. Músculos vivos que podem realizar sua função formam um corpo feliz. Um estômago e intestino que não foram sufocados por alimentos e bebidas tóxicas estão leves e o nutrimento que recebem rapidamente se transforma em energia que corre pelas nossas veias, nos enchendo de vontade de viver. A vida é movimento. É movimento físico. Quando vemos uma criança brincando ao ar livre, correndo atrás de um papagaio (ainda se faz isso ou estão todas com a cabeça baixa olhando para a tela de um celular?), sorrimos. Aquela imagem nos faz pensar em como é boa a infância... Mas naquela imagem vemos, na verdade, a leveza de uma criança cujo corpo não está pesado e lerdo por causa da vida sedentária e monótona, que achata traseiros, dobra colunas, cria papos e incha as pernas. Na criança que corre solta, vemos a vida regozijando-se de si mesma. Mas podemos conseguir essa experiência de energia vital fluindo livremente pelo nosso corpo em qualquer idade, se somente aprendermos a ouvir o nosso corpo, esse magnífico animal que habitamos, que a mente racional invadiu. Esse nosso corpo tem uma história de milhões de anos, é o produto sofisticado de uma evolução incansável que a partir de muitas tentativas e erros foi aperfeiçoando-se na carne viva desse nosso corpo. Temos os mesmos instintos de nossos amigos animais, a mesma sabedoria armazenada em milênios. Mas não ouvimos mais esse corpo, não prestamos atenção às suas necessidades. Estamos sempre mais alienados dessa força vital tão poderosa quanto maravilhosa. Um grande amante do corpo, Alexander Lowen, fundador da Bioenergética, escreveu um livro chamado em inglês “Joy: The Surrender to the Body and to Life”, traduzido em português como “A Alegria do Corpo”. O título original em inglês é mais incisivo: a alegria nasce de nossa entrega ao corpo e à vida. Esquecemos tão facilmente, nessa sociedade tecnológica e racionalóide, que a vida é física, é ar, é verde, é água, é... movimento. Ao querer cuidar do corpo, tentemos olhar para ele como um organismo vivo, que fala sua língua e que nos cabe aprender a entender. Ao escolhermos as atividades físicas vamos priorizar aquelas que promovem a consciência corporal amorosa e sensível. Atividades que nos situem em nós mesmos, que nos façam sentir em casa, que nos ajudem a sentir nosso corpo não só a “treiná-lo” para encapsulá-lo em nossos ideais. Um bom exercício físico (qualquer que seja) é aquele que nos conecta conosco, nos fazendo sentir inteiros e mais felizes.