Psique e encanamento – Quando suas emoções não fluem

Por Adriana Tanese Nogueira

woman-2775273_1920

O sistema psíquico funciona como um sistema de encanamento: nos dois o conteúdo deve poder fluir. Se houver algo que fica parado, este algo vai criar pressão interna, e se nada for feito, as consequências negativas serão inevitáveis. No encanamento o que circula é água. Na psique o que circula é libido, ou energia psíquica, cuja principal forma de manifestação são as emoções.

Assim como no encanamento, também no sistema psíquico não importa o que está bloqueando a passagem. Seja uma barra de ouro ou um dejeto que bloqueia o encanamento, o resultado será o mesmo: todo o sistema entrará em desequilíbrio e uma certa hora irá explodir. Os bloqueios no sistema psíquico ocorrem quando não nos permitimos expressar nossas emoções. No lugar de expressá-las, as reprimimos. A repressão cria o bloqueio. A repressão pode ser tão profunda ao ponto de nem mais nos darmos conta de estarmos reprimindo e muito menos do que estamos reprimindo. Quando isso ocorre, a repressão se torna supressão. Na repressão temos consciência de reprimir e fazemos isso inicialmente de forma intencional. Já na supressão, perdemos a consciência do que fazemos automaticamente e podemos fingir que “está tudo bem”. Entretanto, em qualquer um dos casos as consequências são visíveis no dia-a-dia. Uma das reações mais comuns é a ansiedade. A ansiedade é uma condição de insegurança e medo interiores que não se consegue vincular a algo de específico. O que gera aquela sensação de “assédio” interno que é profundamente desestabilizante. Esta condição é o resultado de uma profunda alienação de si mesmo, que acontece porque não se quer ver, encarar, enfrentar o material reprimido/suprimido. Não se quer ver porque não se quer aceitar. Não aceitar que fora está chovendo não vai impedir de você se molhar. Assim, a não aceitação do material reprimido não muda em nada a realidade psíquica. Os sintomas continuam iguais e, aliás, por causa da negação/rejeição, se tornam mais fortes. O que faz com que o ego tente se alienar sempre mais do que sente e percebe. Um dos recursos que pessoas nessa condição adotam para aguentar esse nível de ansiedade e continuar evitando seus conteúdos interiores é o uso de drogas. As drogas fazem baixar a percepção da tensão interna. A tensão continua, mas a pessoa não a percebe. É literalmente como um anestésico que se infiltra entre a consciência do ego e a psique, uma almofadinha que sufoca a clareza de percepção do ego de modo que este possa continuar não sentindo e não vendo. Esse recurso, entretanto, tem validade somente imediata. Passando o efeito, a pessoa vai se sentir mais fraca ainda, o que a leva a consumir mais drogas para manter o efeito analgésico. E a ansiedade irá aumentar. Toda vez que fugimos de algo que nos angustia ou amedronta estamos dando a nós mesmos uma declaração de incompetência. Psicologicamente falando, nos sentimos derrotados. O que leva a pessoa a se refugiar nas drogas para fugir de mais um motivo de ansiedade: a percepção de sua incompetência em ficar de pé sozinha sem muletas artificiais. No plano físico, a droga envenena o corpo. No plano relacional e social, polui até as relações mais queridas. E assim se engendra a assustadora bola de neve do vício. Há verdades que se teme saber, há sentimentos que se teme sentir, há desejos e necessidades das quais se foge. A terapia é o principal instrumento para desenvolver força interior e clareza mental para enfrentar os conteúdos interiores. O processo terapêutico promove o desenvolvimento de sujeitos adultos e responsáveis, capazes de dar sua contribuição positiva ao mundo, começando com sua família.