Qual é o limite do atleta? - Show de Bola

Por César Augusto

Hyvon-Ngetich

Para alguns atletas, o limite simplesmente não existe. Se você ainda não viu, vale a pena dar uma procurada e assistir. É fácil, é só botar no Google “Marathon Austin 2015” e certamente os vídeos serão sobre isso. Não sei quem ganhou a maratona, não tenho ideia de quem foi o vencedor ou do tempo em que ele completou a prova, mas a atleta que chegou em terceiro lugar entrou para a história e eu nunca mais vou me esquecer dela.

O nome é  Hyvon Ngetich. Ela é mais uma daquelas quenianas que se espalham pelo mundo e passam a vida ganhando maratonas. São tantas essas quenianas que você sempre acha que já ouviu aquele nome. Pode não ser aquela, mas uma outra maratonista queniana todo mundo já viu ganhar alguma coisa.

Bom, dessa vez foi diferente. Hyvon Ngetich estava em primeiro lugar e liderava até com uma certa facilidade. A linha de chegada estava a apenas 2 quilômetros e ela encontrou “The Wall”. É um momento temido por todos os atletas maratonistas. “O muro” é o momento em que o corpo não aguenta mais e simplesmente paralisa. Ouvi sobre isso pela primeira vez depois que a brasileira Maria Magnólia encontrou “O muro” em uma maratona no México. Ela me contou que estava na frente e, de repente, foi como se tivesse batido em uma parece invisível. Poderia seguir andando e ganharia mesmo assim. Faltava pouco para a chegada. Mas tinha uma parede invisível ali. Ela não conseguiu continuar. Sentou e desistiu. As pessoas tentavam avisar que faltava pouco. Tudo em vão. Era “The Wall”. Deu pra entender, certo?

Pois a queniana, em Austin, encontrou pela frente “The Wall”. Sabe-se lá por qual motivo, ela não parou. Percorreu engatinhando as últimas 2 quadras. Foi acompanhada de perto por pessoas da organização, que tinham uma cadeira de rodas a postos. Mas se ela recebesse ajuda, estaria desclassificada. Não aceitou ajuda e continuou rastejando. Vi um comentarista de TV dizendo que o pagamento dela dependeria de resultado, ela só receberia se chegasse. Não acredito que esse seja o motivo de tamanha determinação. Acho até que pode ser um tipo de “memória dos músculos”. Ela sabia que tinha que chegar. A mente esqueceu isso, mas os músculos não.

Ela deu uma entrevista depois da prova (muito depois, já recuperada) e disse que não sabia o que tinha acontecido nos últimos 2 quilômetros. Não tinha ideia de como tinha sido a chegada e não lembra de ter se arrastado, de ter engatinhado. Ou seja, a cabeça apagou. Colapso. “The wall”.

E os músculos a levaram até o fim. Hyvon Ngetich ainda chegou em terceiro lugar, tamanho era a vantagem. Determinação? Loucura? Irresponsabilidade? Não sei como definir, mas adoro ver esses momentos de superação. Mostram que não temos limite, que temos que acreditar, que temos que focar. Se fizermos isso, chegaremos lá. Chegaremos a qualquer lugar. O impossível não existe. O que existe, às vezes, é um possível muito difícil, que os fracos não conseguem alcançar.