Qual princesa você é? As três princesas e suas sombras.

Por Adriana Tanese Nogueira

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Branca de Neve, Cinderela e A Bela Adormecida: três princesas que toda menina idealiza. A boa, a submissa, a ingênua. Todas são perseguidas por um feminino mais velho e malvado. A Rainha madrasta é invejosa cujo veneno é mata sua vítima; a pseudo-mãe é sem coração que maltrata a enteada fazendo-a trabalhar como uma escrava; e a bruxa má que se vinga por ter sido excluída prendendo a jovem no mundo dos sonhos. Temos uma princesa boazinha e servil (Branca de Neve), uma trabalhadora e humilde (Cinderela), e uma terceira que vive no mundo das nuvens. Qual é a sua? Branca de Neve representa a mulher que se identifica com o ser boa. Sendo boa, ela é também servil, sempre pronta a ajudar os outros. Se entristece pelo abuso dos outros, mas ela continua sendo boa, porque isso é motivo de orgulho e, na verdade, é uma exigência interior oriunda de profundezas que ela não ousa investigar. Cinderela representa a mulher que no fundo acredita não ser merecedora (de dinheiro, respeito, reconhecimento, liberdade, etc.). Nasceu para sofrer. Assim, trabalha muito, faz além do que é preciso e do que seu corpo aguenta. Se sacrifica pelos outros, esgotando-se por anos e perseverando. Sua laboriosidade e capacidade de aguentar são seu orgulho. A Bela Adormecida representa aquela mulher que vive no transe de um sonho, uma fantasia, uma quimera. Ela é leve, alegre e esquecida. Sempre “jovem”, ri de seus esquecimentos, pula de galho em galho e degusta essa liberdade que vem do não dar importância ao que é considerado importante, se achando ousada e alternativa. Nenhuma das três princesas pode ser diferente porque elas escondem uma outra face que não podem encarar. Sua sombra é representada pela madrasta e bruxa que vive nas entrelinhas de sua “princezice”. A donzela, coitadinha e alegre, e a mulher madura, amargurada e má, são aspectos da mesma personagem. Viver de uma metade da moeda é privar-se do poder que a totalidade confere. Por trás de Branca de Neve encontramos a Madrasta-Bruxa, cuja inveja é aquela da mulher madura que sofre pelo que perdeu: a juventude fresca e cheia de vida, ingênua e rica em potencialidades da moça. Mas, além disso, há a inveja da dor profunda de ver o que outra pessoa é e é capaz de ser. A inveja é uma admiração ao contrário, diminui o valor que vê brilhando na vida alheia porque num nível profundo a invejosa se auto-exclui do que tanto deseja. Assim, a ingênua bondade da mulher Branca de Neve é, na verdade, uma forma de fugir do perceber-se bruxa invejosa, mas o que reprime aparece aqui e acola nos pequenos gestos, atitudes, olhares, palavras tão “suaves” quando venenosos. Cinderela vive acorrentada à convicção inconsciente de ter nascido para ser submissa. A vida é sofrimento, vence quem trabalha duro. Uma mulher que se respeita é trabalhadora, e não reclama “à toa” (e se reclamar ninguém vai ouvi-la mesmo!). As cinderalas andam pelo mundo arrastando uma grande carga, nunca se concedendo repouso e diversão. Ela representa o lado da mulher moderna que sofre a vida de escrava que leva, mas não ousa questionar, apontar dedos, levantar a voz e mudar as regras do jogo. Afinal, quem é ela para fazer isso...? A Bela Adormecida encontrou um atalho para ser feliz e evitar de assumir o lado difícil e contraditório da vida. Nasceu abraçando a cisão: a dimensão problemática da existência foi excluída. As consequências da injustiça psicológica cometida são visíveis na atitude de dondoca de Bela, que vive na superfície da vida sem perceber o dano que faz a si mesma e aos outros.