A esmagadora maioria dos leitores, especialmente brasileiros, não gosta quando se faz elogios a ocupantes de cargos públicos.
Faz parte de nosso DNA assumir que, via de regra, todos os políticos são ladrões ou corruptos e os servidores públicos uma casta para quem pouco ou nada importam os tormentos a que somos submetidos nos labirintos da burocracia.
Portanto, sei de cara que as minhas conside-
rações aqui podem muito bem ser tomadas como “puxa-saquistas” ou oportunistas.
Mas não é essa quase-certeza que vai me impedir de usar a absoluta e generosa liberdade que o Gazeta sempre me deu, como editorialista, de abordar os temas que julgo imprescindíveis e irrelevantes para o leitor da nossa comunidade.
Vivendo na Flórida há duas décadas, e atuando de forma contínua na imprensa, nas atividades culturais e artística, pude observar de muito perto um organismo que diz respeito a todos os brasileiros: o Consulado.
O organismo e seus líderes, os cônsules.
Quando o embaixador João Almino foi designado para ocupar a função de Cônsul-Ge-ral do Brasil em Miami, acabávamos de vivenciar um progresso importante, protagonizado pelo Embaixador Lúcio Amorim. Coube a ele quebrar uma série de “tabus” que distanciavam de forma anacrônica e inaceitável, o organismo consular de seus verdadeiros “patrões” que somos nós, o povo brasileiro, em qualquer lugar do mundo que estejamos.
Se tivesse simplesmente dado curso ao que Amorim já havia implementado, abrindo portas e mentes do Consulado para a grande e abrangente comunidade brasileira da Flórida, João Almino já teria feito um grande trabalho.
Mas o nosso Embaixador, que ora se despede aclamado pela sociadade como um genuíno líder de nossa gente na América, foi além, muito além dessa proposta inicial.
O Consulado-Geral do Brasil em Miami é a unidade diplomática brasileira que experimentou, especialmente a partir de 1999, a mais dramática evolução na demanda de serviços.
João Almino experimentou, não sem estresse, a triplicação da demanda por serviços cartoriais num espaço de apenas 3 anos. Lutou e conseguiu que o Consulado-Geral do Brasil em Miami se tornasse uma referência de eficiência e produtividade, embora sempre reconhecendo que ainda há muito o que se fazer para atender como merece, o brasileiro que reside na área de atuação da unidade Miami.
Não vou aqui fazer o “release” das realizações de Almino.
Vou sim, deixar escrito, registrado para quem se disponha um dia a estudar a história dos serviços prestados à comunidade brasileira no Sul da Flórida, que a passagem do casal João Almino e Bia Wouk por nós estará eternamente marcada pela eficiência, trabalho, seriedade e compromisso com as mais diversas causas da comunidade.
Temos testemunhado diversas homenagens e cerimônias, dos mais diversos setores da sociedade brasileira, marcando a despedida de Almino e Bia. A partir de janeiro passam a morar em Chicago onde João Almino exercerá a quarta função diplomática brasileira nos Estados Unidos, após San Francisco, Washington e Miami.
O setor religioso (na homenagem prestada pela Primeira Igreja Batista Brasileira) o empresarial (no evento promovido pela Brazi-lian Chamber of Commerce of Florida) e o artístico-cultural (no evento promovido pela Acontece Magazine nesta terça feira, dia 4), cada um a seu modo, mas com insuspeita gratidão e sinceridade, tem dito “muito obrigado” e “até logo” ao casal que soube conquistar com enorme dignidade e simplicidade, os corações de todos com quem interagiram.
Em nenhuma dessas homenagens e despedidas se viu um tom “burocrático” ou “meramente formal”, como normalmente é esse tipo de cerimônia.
Houve emoção e aclamação.
Certamente a sensibilidade artística do casal (ele, renomado escritor de reconhecimento internacional; ela, artista plástica de talento reconhecido em várias partes do mundo) foi um fator extra a alavancar a grande empatia gerada por Almino e Bia na nossa comunidade.
Sim, é plenamente possível ser um exemplo como servidor público.
Ser patriota e comprometido com os grandes interesses do Brasil.
Ser generoso e humano com a massa imigrante que tem no Consulado seu “porto seguro” de referência (para a grande maioria, a única referência real, palpável) de nossa pátria, quando se está longe dela.
E eu, que tenho visto e convivido com muitos diplomatas, posso perfeitamente dizer que, em que pese os muitos críticos do governo Lula, que se há algo que se pode louvar amplamente nas administrações do PT, é justamente a mudança radical na atitude do Itamaraty com relação às comunidades brasileiras do exterior.
Muitos diplomatas nos Estados Unidos refletem bem essa mudança de atitude.
Nenhum reflete tão bem quanto João Almino.

