Quatro filhos, gravidez com câncer, marido deportado: a luta de uma mãe brasileira na Flórida

Por Arlaine Castro

Prisão e deportação do marido Quando o bebê estava com 15 dias, Jade conta que o marido se envolveu em uma briga em um bar e foi detido. Até a deportação foram 30 dias. Como já haviam morado na Itália e em Portugal antes de virem para os Estados Unidos, ambos entraram e permaneceram com o passaporte europeu. "Somente depois da prisão dele que soubemos que o passaporte europeu não nos ampara nem para enfrentarmos um processo. Sempre soubemos do risco por estarmos ilegais, mas não sabíamos que ele não teria direito nem a audiência. Ele nem assinou a deportação", afirma. Segundo Jade, para tentar impedir a deportação do marido, eles apresentaram o laudo médico atestando que ela estava em tratamento contra um câncer e também o registro de nascimento dos três filhos mais novos - todos americanos-, afirmando a necessidade do marido permanecer como provedor, mas não adiantou. Além disso, entraram com pedido para amparo legal para imigrantes que moram há mais de 10 anos nos EUA - conhecida popularmente como "lei dos 10 anos", que foi negada. "É tudo muito difícil sem ele. É muito companheiro e me deu muita força desde quando recebi o primeiro diagnóstico", destaca. 5, 10, 20 dólares de lucro no trabalho Jade, que é formada em patologia clínica no Brasil, assim como grande parte das brasileiras que moram no exterior, sempre trabalhou com limpeza de casas. Antes da prisão do marido, ela conta que haviam decidido que ela pararia de trabalhar para cuidar dos filhos e ele, que trabalhava com instalação de piso de madeira, ficaria por conta das despesas. "No dia em que ele foi preso eu liguei para minhas clientes e disse que precisava das casas de volta, mas como já tinha passado para outras pessoas, consegui reaver só algumas", diz. Mesmo dividindo o dinheiro que recebia, pagando babá e ganhando bem menos, não parou. "Não podia parar. Meus filhos dependem de mim. Seja 5, 10, ou 20 dólares, eu vou buscar", desabafa. "Pedia amigas para ficar com meus filhos para poder trabalhar ou os levava comigo. Uma amiga veio de New Jersey e ficou dois meses assim que o mais novo nasceu. E é assim que vamos vencendo. Sabia que eu tinha que lutar por eles", acrescenta. [caption id="attachment_184460" align="alignleft" width="358"] Jade durante tratamento. Foto: arquivo pessoal.[/caption] A força da comunidade brasileira Desde que ficou sem o marido e enfrentando ainda o câncer, a baiana conta que, para conseguir manter as crianças, diminuiu tudo o que podia de despesas de casa como água, luz, telefone, internet e televisão. Além disso, obteve muita ajuda da comunidade brasileira. "Graças a Deus, foi a comunidade brasileira que se levantou e me ajudou e continua me ajudando até hoje. Fizeram campanhas, uma amiga promoveu um almoço especial para arrecadar dinheiro. Sem essa ajuda eu não sei como seria", relata. Busca por tratamento Sempre trabalhando e buscando ajuda médica em busca de tratamento gratuito porque não tinha seguro de saúde, a baiana não desanimou. Ao rodar por hospitais, universidades e clínicas, onde mostrava os exames, Jade conta que os médicos duvidavam quando ela dizia que engravidou mesmo tendo câncer. "Eles diziam não ser possível porque eu só tinha 20% do útero. Parte dele foi retirada com o tumor quando fiz a cirurgia", explica. Última cirurgia No dia 2 de maio, Jade passou por nova cirurgia no Holly Cross Hospital onde retirou o colo do útero, o útero e as trompas. Esperançosa, elogia o corpo médico e disse que não deve precisar fazer quimioterapia. "Os médicos são muito bons. Eles disseram que, por eu ter descoberto bem no início e com as cirurgias, não devo precisar de quimioterapia, somente acompanhamento a cada seis meses", diz aliviada. Por causa do pós-operatório, desta vez Jade vai precisar ficar 40 dias de repouso e sem poder trabalhar. Ser mãe é ser forte "Olho para a carinha de cada um dormindo, aquele 'sono dos justos', e é só gratidão mesmo a Deus porque eu olho para trás, as pessoas me perguntam como eu tenho conseguido e eu respondo que não sei...é só Deus mesmo. Com quatro meninos, de resguardo, cansada, trabalhando e amamentando os dois menores porque o Fabrício de 2 anos ainda mama no peito também. Ser mãe é ser forte", diz emocionada. Para as outras mães, o recado de Jade traz seriedade e fé: "Deus é fiel, olho pra trás e não sei como cheguei até aqui. Só sei que luto e lutei muito e os amigos são essenciais. Chegará o dia que tudo será passado e eu vou entender muito bem a dor, a preocupação do outro que tem filhos para sustentar e lembrarei de tudo que venci e saberei lutar pelo próximo nessa mesma situação. Daqui a pouco serão novos tempos, novas conquistas, nova história", finaliza.