Por trás da perturbadora revelação feita pelo FBI de que os chamados “crimes de ódio”, aqueles que são cometidos tendo como motivação o ódio racial, religioso ou de orientação sexual - está uma constatação muito mais inquietante: em vez da humanidade caminhar, como se espera, para um grau maior de tolerância e convivência, parece caminhar para o extre-mismo que a nada e nem a ninguém beneficia.
Os crimes hediondos, especialmente os cometidos por racismo, cresceram quase 8% entre 2005 e 2006, e os dados disponíveis sobre 2007 apontam para um crescimento ainda maior quando chegarmos a 31 de dezembro. Embora esses crimes sejam, em grande parte, cometidos em áreas pobres do país, a violência contra negros, imigrantes, gays e pessoas de religião não cristã também ocorrem em comunidades abastadas e, pelo menos, teoricamente, com melhor base educacional e cultural.
A banalização da violência tem uma boa parte da responsabilidade. Num mundo em que a matança generalizada, o desmembramento de corpos e o sadismo fazem parte do mesmo circo de entretenimento que temas românticos e eróticos, o que se pode esperar?
Vivemos sob o signo do vídeo e seu pode-roso raio de sugestões. E quem ainda vier com aquela esdrúxula desculpa de que a TV e os meios de comunicação não afetam a comportamentologia coletiva, deve fazer um rápido exame de sanidade mental.
O racismo é um dos mais graves e não resolvidos problemas da humanidade. O ser humano segue atirando primeiro e perguntando depois, quando se trata de lidar com o desco-nhecido. Certamente os progressos alcançados desde o fim da escravidão, na maioria dos países ditos “civilizados”, foi grande. Mas não o bastante para modificar o que segue sendo uma realidade onde aos negros do mundo é reservado, via de regra, os papéis de artistas e esportistas.
Talvez exatamente por sentirem que é ape-nas nesses setores que podem ganhar dinheiro, fazer sucesso, brilhar e superar as demais raças, que os negros se empenhem tanto em conquis-tar reluzentes carreiras atléticas e artísticas.
Mesmo assim, demorou 80 anos para que uma cerimônia do “Oscar” premiasse um ator negro (Denzel Washington) e uma atriz negra (Hale Berry) como melhores de uma mesma temporada. Temos diante de nós cerca de 15 postulantes à presidência dos Estados Unidos. Apenas 1 é negro.
Favorece a onda de criminalidade racial, a absurda velocidade com que a nação norte-americana se arma. A indústria bélica – nesse caso apoiada pela retórica de guerra e segurança do atual governo Bush conseguiu, através da mídia, impor a idéia de que a única coisa vital, hoje em dia, é “se defender’, “se proteger”, traduzindo em boa caixa registradora, “comprar armas”.
Os ódios eternos e contidos se vêm hoje com a possibilidade concreta de enfrentamento como “solução, ou seja, eliminar o objeto odiado. O que vem depois, seja remorso ou punição, não adianta muita coisa. Quem está morto está morto e a sociedade se depaupera a cada dia.
Parece papo religioso, mas não é. É apenas a constatação de que a violência que cresce e ameaça imperar, só teria como ser erradicada se a educação substituísse a doutrina do medo e da insegurança, pela educação e pelo desarmamento.
Mas, vamos ser bem realistas: a quem, além de nós, pobres “zens” do planeta, inte-ressa isso?
Resta, portanto, fazer cada um de nós a nossa parte, dizendo “não” ao racismo e “não” à intolerância. Afinal, houve um tempo em que nós brasileiros éramos famosos por sermos “da paz”.

