Reconstituição confirma casal como único suspeito da morte de Isabella

Por Gazeta Admininstrator

Após a reconstituição do assassinato da menina Isabella Nardoni, 5, realizada durante sete horas no domingo(27) no prédio de onde ela foi jogada na noite de 29 de março, a Polícia Civil de São Paulo e o Ministério Público decidiram pedir à Justiça a prisão preventiva do casal Alexandre Alves Nardoni, 29, e Anna Carolina Jatobá, 24, pai e madrasta da menina. Eles foram indiciados por homicídio triplamente qualificado (motivo torpe, uso de meio cruel e sem possibilidade de defesa).

Durante a “reprodução simulada” do crime - forma como peritos criminais chamam a encenação de todas as versões de um crime -, delegados e peritos do IC (Instituto de Criminalística) se concentraram principalmente na reconstrução cronológica do que ocorreu na noite de 29 de março no edifício London, na Vila Isolina Mazzei (zona norte de SP).

Os delegados do 9º DP (Carandiru) responsáveis pelo esclarecimento do crime entregaram à Justiça o inquérito policial sobre o caso e pediram a prisão preventiva de Nardoni e de Anna Carolina. Para a polícia, o casal é o único suspeito do assassinato.

Os documentos produzidos durante a simulação não foram entregues à Justiça com o inquérito. Isso para que o prazo legal de 30 dias para a conclusão da investigação não fosse estendido.

As conclusões sobre a simulação serão anexadas ao inquérito quando a polícia for informar à Justiça quem tentou alterar possíveis provas das agressões a Isabella, como a tentativa de limpar manchas de sangue da menina no apartamento e no carro do casal. Até agora, existem suspeitas de que Cristiane e Antônio Nardoni, irmã e pai de Alexandre, possam ter removido as manchas de sangue deixadas por um corte na testa de Isabella.

Reconstituição
Por estratégia de seus três advogados de defesa e de Antônio Nardoni, que também é advogado, o casal se recusou” a comparecer à simulação. Com isso, o casal deixou de apresentar aos peritos a sua versão sobre o crime. Ambos alegam inocência e dizem que uma terceira pessoa invadiu o apartamento da família, enquanto Nardoni voltava à garagem para buscar a mulher e os outros dois filhos, agrediu Isabella e a jogou pela janela.
Por afirmar que a investigação corre em segredo, determinado pelo delegado Calixto Calil Filho, titular do 9º DP, até agora, a Polícia Civil de São Paulo não apresentou publicamente um só documento do inquérito policial, nem mesmo os laudos que são apontados como principais indícios de que o casal matou Isabella.

Caso a denúncia da promotoria contra o casal seja aceita pela Justiça, os dois passarão a figurar como réus, ou seja, existirá um processo contra Nardoni e a mulher. “A lei exige indícios suficientes de autoria para a propositura de ação penal. No momento, tenho tais indícios”, afirmou Cembranelli.

Os peritos levaram sete horas para fotografar, desenhar e cronometrar as ações que, na noite da morte de Isabella, teriam ocorrido nos 13 minutos entre a chegada da família Nardoni ao edifício Residencial London e o registro de chamada ao resgate.

Na primeira hora e meia, foram cronometrados os passos da família da garagem até o apartamento. Depois, a rede de proteção do quarto da menina, que ainda estava intacta, foi retirada e colocada no quarto dos irmãos, de onde ela foi jogada. A mudança levou meia hora. Em seguida, a grade foi cortada com tesoura.

Mais de uma simulação foi feita de como Isabella teria sido jogada, de acordo com os laudos realizados pela Polícia. Uma boneca articulada com altura e peso similar ao da menina, cabelos negros compridos, calça branca e blusa azul foi segurada do lado de fora do apartamento 62, sacudida e solta duas vezes. Da primeira vez, o policial que representou o pai da criança soltou primeiro o braço esquerdo. Na segunda, o direito. A boneca ficou pendurada por cordas e peritos marcaram com fita os pontos da parede onde o corpo esbarrou.

A boneca foi levada para a entrada do prédio e colocada no jardim, na posição que os vizinhos relataram ter visto Isabella. Morador do primeiro andar, Antônio Lúcio Teixeira foi o que deu mais detalhes. “Vira pra cá. Põe a mãozinha pra cima e o rostinho colado na grama. Ai, que nervoso”, disse. Depois, comentou a chegada do pai da menina. “Eu estava no telefone, com a polícia e ele disse que arrombaram o apartamento, rasgaram a tela de proteção e jogaram a filha dele. Ainda segundo Teixeira, Nardoni pedia ao porteiro que subisse para procurar o ladrão. “Mas eu falei que não precisava porque a pessoa ia ter de passar por ali ou pela garagem e eu ficaria de olho”. O porteiro, Valdomiro da Silva Veloso apenas confirmou.

Os peritos ouviram ainda o morador do terceiro andar e dois vizinhos do prédio ao lado. A menina Isabella Nardoni, de 5 anos - que morreu no dia 29 de março após ser atirada do prédio onde moram o pai e a padrasta- foi esganada dentro do apartamento, antes de ser jogada. A conclusão foi possível por meio do laudo necroscópico emitido na sexta-feira(25) pelo Instituto Médico-Legal (IML). Na última reunião que tiveram com peritos do Instituto de Criminalística (IC), médicos-legistas disseram que entre o processo de asfixia e a queda de Isabella se passaram apenas sete minutos.
O atestado do IML soma-se ao fato de a polícia ter descoberto, pelo aparelho de GPS instalado no Ford Ka da família Nardoni, que o casal Alexandre Alves Nardoni, de 29 anos, e Anna Carolina Trotta Peixoto Jatobá, de 24, permaneceu pelo menos 12 minutos dentro do Edifício Residencial London até a menina ser arremessada do 6º andar. Os dois negam participação no crime.

Os legistas concluíram ainda que o pescoço de Isabella foi apertado por três minutos. A agressão fez a criança ficar inconsciente e entrar em estado de agonia, com a diminuição progressiva dos sinais vitais. Apesar disso, Isabella ainda estava viva quando foi atirada pela janela. Foi a queda de 20 metros de altura que determinou a sua morte, segundo o laudo do IML. O exame do cadáver revelou ainda que a criança tinha um ferimento interno no lábio, semelhante ao provocado por alguém que tenta calar sua vítima à força. Embora a causa da morte tenha sido por politraumatismo, os legistas detectaram apenas duas fraturas em Isabella - no punho, feita em vida, e na bacia.