Recorde: quatro em cada 10 mães sustentam suas casas, incluindo brasileiras

Por Marisa Arruda Barbosa

sebastiana e amandaok

Mães dedicadas e presentes, profissionais competentes, brasileiras que optaram por criar os filhos sozinhas fazem parte de uma estatística crescente nos Estados Unidos. Uma pesquisa do centro Pew de pesquisas mostrou, esta semana, que um número recorde de 40% de todas as casas com filhos menores de 18 anos são sustentadas pelas mães nos Estados Unidos. Essa porcentagem era de apenas 11% em 1960.

De acordo com a pesquisa, que se baseou em dados do Census americano e entrevistas de opinião pública, essas mães “ganhadoras do pão” são divididas em dois grupos completamente diferentes: 5,1 milhões (37%) são mães casadas que têm um salário mais alto do que seus maridos, e 8,6 milhões (63%) são mães solteiras.

Quando engravidou aos 39 anos, Valéria Casal, que vive em Miami Beach, já sabia que teria que fazer ajustes em sua vida movimentada, trabalhando no departamento de marketing da HBO.

Quem ajudou muito quando nasceu Erik, hoje com seis anos, foi a mãe de Valéria, que veio passar temporadas em Miami, até que acabou ficando por aqui. Conclusão: hoje, Valéria não só sustenta o filho como também a mãe.

Mas, para Valéria, a questão financeira veio quase que naturalmente. O principal foi adaptar-se para ter tempo. E ela conseguiu. Quando seu filho já tinha mais ou menos dois anos, Valéria resolveu sair do mundo corporativo e fez um curso para ser corretora de imóveis. Há mais ou menos um ano, a brasileira trabalha com isso na AG Advisors e tem sua própria empresa que presta serviços de concierge para quem tem casa em Miami e não mora na cidade, chamada “Su Casa Mi Casa”.

“Não paro de trabalhar, mas é gratificante”, disse ela, que tem horários flexíveis, passa grande parte do dia com o filho, e viaja com ele várias vezes ao ano. “Minhas amigas dizem que sou ídolo delas!”.

Enquanto conversava com o GAZETA por telefone, Valéria trabalhava com o computador no colo, na sala de casa, era interrompida várias vezes pelo filho, que assistia um filme. “Eu tenho o maior prazer de passar tempo com ele”, disse ela, que com a presença da mãe, nunca precisou pensar em chamar uma baby sitter.

Esse já não é o caso da enfermeira Sebastiana Campos, de 38 anos, que vive em Aventura e tem como um dos seus únicos desafios ter uma baby sitter de confiança e que sua filha Amanda, de sete anos, se dê bem. Sebastiana era casada com o pai de sua filha até quando ela tinha quase três anos. Quando se separou, o processo de adaptação foi difícil.

Sebastiana já trabalhava como enfermeira enquanto era casada e, nos dias de plantão, Amanda ficava com o pai. Depois que voltou a fazer plantões trabalhando como enfermeira de UTI do Mercy Hospital, Sebastiana depende da baby sitter, o que, segundo ela, não é fácil encontrar por ter que dormir em sua casa. Mas esse horário é perfeito, pois a enfermeira chega em casa a tempo de levar a filha à escola e passar o dia com ela. Claro, não sobra muito tempo para dormir. “Nos dias em que faço plantão noturno, que são três dias por semana, durmo somente três horas”, disse. Mas pelo menos sua filha não se queixa de sua ausência. “Tem dias que ela não gosta que eu faça plantão, mas ela gosta da babá dela”.

Mesmo assim, os planos de Sebastiana são de começar a fazer mestrado no segundo semestre. “Nem sei como vai ser, mas sei que darei um jeito”, disse.

A mulher no mercado de trabalho

O crescimento dos grupos de mães que sustentam suas famílias está diretamente ligado

ao aumento da presença das mulheres no mercado de trabalho, disse o estudo do centro Pew. Mulheres são quase a metade (47%) da força de trabalho hoje em dia, e a taxa de emprego de mulheres casadas com filhos aumentou de 37% em 1968 para 65% em 2011.

Mas a opinião do público quanto a isso continua dividida. Enquanto muitos reconhecem o benefício econômico que isso traz para as famílias, outros se preocupam com o impacto que ter uma mãe trabalhando período integral pode causar sobre os filhos. Três quartos (75%) dos adultos diz que o aumento das mulheres no mercado de trabalho tem tornado mais difícil a criação dos filhos e o sucesso do casamento. Ao mesmo tempo, dois terços dos entrevistados dizem que isso facilitou para o aumento do conforto das famílias.

Valéria e Sebastiana concordam que o melhor para que seus filhos não notem suas ausências é trabalhar em horários não convencionais, podendo adaptar-se à rotina deles. “Trabalhar no horário comercial é pior, pois eu teria que colocá-la em um day care todos os dias”, conclui Sebastiana.