Redes sociais mostram a nova formação de “juízes”

Por Arlaine Castro

A internet e as redes sociais permitem que pessoas passem a externar opiniões de forma contundente, sem o filtro dos meios de comunicação tradicionais. A sociedade encontrou nas novas tecnologias uma forma de expressão direta e muitos assuntos são diariamente discutidos. Porém, com eles, vêm as opiniões que, por muitas vezes, se assemelham a de um “juiz”.

Na atualidade, as notícias jornalísticas produzidas torrencialmente geram, além de medo do próximo e daquilo que é coletivo e social, uma tirania do presente. Profetizado por Marshall McLuhan, em seu livro “Os Meios de Comunicação como Extensões do Homem” (Understanding Media), de 1964, o atual cotidiano conta com caixas de e-mail abarrotadas de informações invasoras, celular tocando para propagandas mercadológicas não-autorizadas – que são novas formas que a sociedade utiliza para se inteirar, integrar-se, persuadir, manipular, controlar, aprender, fazer-se ver e ser visto, conversar e fofocar.

As mídias avaliam a repercussão das notícias também pelos comentários dos leitores, que o tempo todo opinam, mas muitas vezes partindo para o lado pessoal entre os próprios autores dos comentários ou buscando tirar conclusões precipitadas sem ler toda a notícia.

A opinião emitida vem para ofender, criticar e até ameaçar. Como descreveram Bruno Ferrari e Gabriela Varella em artigo publicado pela revista Época: “Parece um duelo do Velho Oeste. No lugar da arma, é o dedo no mouse ou na tela do celular. Navegamos pelas redes sociais como se estivéssemos num filme de bangue-bangue. Aguardamos o adversário chegar armado para nos surpreender. Ao sinal de ameaça, ‘pá! , ou melhor, ‘clique!’. Assim, compartilhamos textos esdrúxulos sem ler porque o título é provocativo. Distribuímos fotomontagens malfeitas achando que são imagens reais. Assinamos petições on-line sem saber do que se trata. ‘É golpe militar? Achei que fosse impeachment’. Quem veste camisa da Seleção Brasileira e vai para a rua é ‘coxinha’. Quem bate panela em discurso de político é ‘reaça’. E quem não bate? ‘Petralha’. Queremos protestar contra os religiosos intolerantes. O que fazemos? Enchemos uma rede social voltada ao público evangélico de filmes pornôs. Destruímos relacionamentos que levaram anos para ser construídos só por causa de um ‘curtir’ ou de um ‘compartilhar’. E talvez não estejamos nos dando conta disso”.

O GAZETA é voltado à comunidade brasileira, por isso, dá prioridade a matérias relacionadas à imigração nos Estados Unidos e também, é claro, notícias de brasileiros que aqui vivem. Percebe-se com alguns comentários de leitores, porém, um repúdio ao próprio país de origem e aos conterrâneos. E nem sempre precisa estar ligado a algum crime para questionarem e apontarem vários indícios de culpa sem ao menos ter a informação de um parecer legal das autoridades. Para o cientista social Marco Aurélio Nogueira, da Universidade de São Paulo, a internet se popularizou em meio ao enfraquecimento de instituições que, tradicionalmente, ajudavam a organizar comunidades. A escola, a igreja, a família, os sindicatos e os partidos estão perdendo a influência. As pessoas estão buscando as respostas na internet. “A cultura brasileira, tradicionalmente, nunca incorporou o conflito e a divergência, algo inerente ao ambiente de internet”, diz Nogueira. “A cultura de rede ainda não se fixou em termos éticos na vida brasileira. Não temos uma cultura de boas maneiras. A gente nem sequer sabe o que queremos da vida em rede”.

Precisamos repensar o papel social das redes sociais. Caso contrário, a internet, que cresceu e se desenvolveu como uma poderosa ferramenta democrática, corre o risco de alimentar o ódio, a intolerância e o autoritarismo.

Referências: Paulo Nassar, professor doutor da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP) e escritor. Bruno Ferrari e Gabriela Varella, revista Época.