Reeleição de Obama impulsiona venda de armas

Por Simone Raguzo

“Sou totalmente a favor ao direito de todo adulto portar uma arma, não é a arma que mata. Todo portador de uma arma deveria passar por uma avaliação psicológica e deveria ser obrigatório nas escolas o ensino de como atirar e usar os vários tipos de armas. Também penso que a lei deveria ser bem mais dura para quem for encontrado armado sem ter a respectiva capacidade para tal. Toda ditadura foi antecedida por campanhas de desarmamento. Portanto, muito cuidado, amanhã sua arma poderá estar apontada contra você em um paredão de fuzilamento”. Bruno Contipelli, de Miami.

O direito de um cidadão portar arma divide opiniões e gera debates. De um lado os que, num mundo que parece cada dia mais violento, defendem o direito da pessoa ter como se defender. Do outro, aqueles que acham que portar arma pode gerar ainda mais violência e causar tragédias nos lares.

A discussão sobre esse tema polêmico está diretamente ligada à questão política. O direito ao porte de arma é defendido pelos americanos conservadores, que tendem para o lado republicano. Com a derrota de Mitt Romney, assim que o atual presidente americano Barack Obama foi reeleito, imediatamente o setor de armas de fogo viu suas vendas aumentarem.

A tendência já podia ser observada desde meados de outubro, quando Obama afirmou, durante o segundo debate presidencial, que cogitava proibir a venda de armas de assalto (semiautomáticas) a civis e evitaria que armas de fogo chegassem às mãos de criminosos com verificações de histórico criminal. Muitos americanos, temendo perder seu direito garantido pela segunda emenda da constituição, correram às lojas especializadas para adquirir uma arma e/ou abastecer seu arsenal.

As ações da Smith & Wesson, uma das maiores fabricantes de armas dos Estados Unidos, subiram em mais de 7%, enquanto que sua concorrente, Ruger, terminou o dia seguinte à reeleição do presidente democrata com um aumento de 3%. As vendas de rifles táticos e munições também dispararam, com os consumidores dando preferência às armas de assalto do tipo AR-15 e AK-47.

Segundo publicações especializadas do setor de venda de armas de fogo, foi a menção de Obama a uma possível proibição de vendas de armas para civis que fez com que, em outubro, o número de verificações de histórico criminal tivesse um aumento de 18,4%, segundo dados do FBI. Esse dado é o principal indicador do desempenho do mercado de armas.

Com os recentes massacres cometidos por cidadãos americanos com porte de artilharia pesada, a população tem ficado mais assustada. Nos últimos cinco anos, já aconteceram 13 tragédias do tipo nos Estados Unidos. O brasileiro Bruno Luiz Filho é um dos defensores do direito ao porte de arma. “Acho que temos esse direito sim, pois os bandidos não têm o direito, mas portam seus armamentos e usam sem critério nenhum. Devemos ter o direito de ao menos tentar nos defender de igual para quase igual contra a criminalidade”, argumenta.

Lei Em 1994, o então presidente Bill Clinton despertou a ira da National Rifle Association of America (NRA), um dos mais poderosos grupos de lobby em Washington, que luta pela garantia ao direito dos cidadãos de portar arma, ao decretar a Proibição Federal a Armas de Assalto. A lei federal tinha um prazo de validade de 10 anos e proibia a fabricação de armas semi-automáticas, como o AK-47, para uso civil. Para a satisfação da NRA, a proibição não foi renovada pelo republicano George W. Bush, em 2004.

Mas, agora, grupos conservadores acham que o presidente americano vai se sentir mais livre para agir, sem a preocupação de desagradar alguns setores da população, já que não terá mais de participar de uma eleição. “Se Obama nomear mais juízes da Suprema Corte, os proprietários de armas terão muito a temer”, afirma a NRA, em referência a temores de que o líder americano indique juízes favoráveis a medidas de controle de armas.

Mas os grupos ativistas pela proibição de venda de armas de fogo estão satisfeitos e esperançosos em relação aos próximos quatro anos de Obama na Casa Branca. Em um comunicado parabenizando o presidente americano pela reeleição, o grupo Brady Campaign to Prevent Gun Violence prometeu “trabalhar em nome dos americanos com o presidente e o Congresso para reduzir a violência causada por armas de fogo”. No entanto, dificilmente haverá uma mudança nesse cenário e os americanos poderão continuar usufruindo do direito ao porte de armas, pelo menos pelos próximos anos. Além da reeleição de Obama, as últimas eleições garantiram o controle da Câmara aos republicanos, o que pode fazer de Obama um presidente sem mandato até 2014, quando os americanos poderão novamente escolher seus deputados. *Com informações da “BBC”.

Você é contra ou a favor ao porte de arma?