Regras para financiamento podem mudar

Por Gazeta Admininstrator

As agências reguladoras federais do sistema financeiro apresentaram, na sexta-feira(29), propostas para ajus-tar o segmento de empréstimos subprime (voltado para compradores sem histórico de crédito, ou com crédito ruim), segmento este considerado de alto risco, e que vem causando preocupações no mercado.

Segundo comunicado do Federal Reserve, as propostas visam garantir que os devedores obtenham empréstimos que possam honrar, em uma tentativa de reduzir os abusos que têm gerado elevados níveis de ina-dimplência.

Neste contexto, as agências propõem maior rigidez no padrão de concessão de empréstimos nestes segmentos que, recentemente, causaram problemas a dois fundos de investimentos do Bear Steams, alavancados em créditos subprime.

Propostas
Para tanto, as agências sugerem a total qualificação dos potenciais devedores, com a sugestão de que a renda declarada seja aceita apenas no caso de existirem fatores documentados que claramente minimizam a necessidade de verificação da capacidade de pagamento do credor. Isto é, os credores não deverão confiar apenas na declaração dos tomadores de empréstimos.

Além disso, as agências sugerem que os bancos levem em consideração a possibilidade de aumentos nas taxas de juros no país no momento de verificar se o potencial devedor tem condições de pagar o empréstimo tomado.

Impacto limitado
A despeito das propostas apresentadas terem a intenção de reduzir os riscos neste segmento, analistas acreditam que seus impactos podem ser limitados.

Isto, porque, além das propostas não proibirem o empréstimo sem a conferência de renda do devedor, cerca de 70% dos emprésitmos subprime são realizados por corretoras especializadas no setor, que são reguladas pelos estados, de forma que há incentivos para que estas corretoras continuem realizando os negócios que lhes dêem maior retorno.

Reflexos
A crise no mercado norte-americano de crédito hipotecário de baixa qualidade (subprime) não é um evento isolado e deverá afetar a economia dos Estados Unidos e se espalhar por mercados diversos, como o da moeda brasileira.

A avaliação é de Bill Gross, diretor da Pacific Investment Management (Pimco), em seu relatório de julho de perspectiva de investimento. O especialista da maior gestora de fundos mútuos de bônus do mundo vai além e considera que a questão motivaria o Federal Reserve (Fed) a reduzir a taxa básica de juros dos
EUA até o final do ano.

A apreensão com o crédito hipotecário subprime foi reavivada, após notícias sobre dois fundos do Bear Stearns que quase fecharam por perdas de rentabilidade relacionadas ao segmento. A crise no subprime não é um evento isolado e não será encerrado em alguns dias nas manchetes no The New York Times, afirmou Gross.

Na visão do especialista, que gerencia US$ 104 bilhões na PIMCO, os problemas no setor de hipotecas subprime irão redu-zir o consumo e afetar a construção de novas moradias nos EUA nos próximos 12 a 18 meses. De acordo com o gestor, preços atrativos nesse tipo de financiamento têm sido a chave para o sucesso do mercado imobiliário nos últimos anos. Agora, isso desapareceu, analisa. E a disposição de conceder crédito em outras áreas deve sentir os ventos frios do Ártico de uma contração na liquidez.

Efeitos limitados
Para o analista-econômico do Banco Safra, Leonardo Portugal, entretanto, os efeitos dessa crise fora do segmento imobiliário ainda não podem ser apontados. “Se isso continuar de forma muito prolongada e de forma mais intensa, vai acabar afetando toda a economia. Mas, por enquanto, é difícil quantificar se já começou a contaminar os demais setores da economia norte-americana”, afirma o analista, observando que, por enquanto, o problema está sendo limitado em volta dos setores envolvidos diretamente, como vendas de material de construção.

Leonardo acredita que os efeitos da crise continuarão afetando o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA nos próximos meses, mas lembra que o Fed trabalha com uma previsão de melhora para o ano que vem. “O banco central norte-americano projeta crescimento perto do potencial já a partir de 2008”.